sexta-feira, 18 de agosto de 2017

A hora da Razão

Dentro das minhas lembranças de criança, lá um dia, por volta dos quatro anos de idade, fui com minha mãe visitar amiga sua que morava na Rua São Francisco, próximo à igreja do santo, no Bairro Pinto Madeira, em Crato. Chegáramos ao bairro alguns meses depois de virmos de Lavras da Mangabeira. Naquela tarde, sei bem não, estávamos n pequena residência, nessa visita, onde demoraríamos só pouco tempo, mas o suficiente a que eu presenciasse passar cena que marcou momentos posteriores. Viria passar em frente à casa um enterro, féretro de algum morador daquela área. Observador contumaz, notei o movimento daquelas pessoas a transportar a urna mortuário e quis saber do que aquilo se tratava.


Até então, vivendo na fazenda dos meus avós, nunca soubera detalhes do jeito de devolver a matéria ao chão; noutras palavras, desconhecia o suplemento de viver que espera a todos logo ali no final da curva da existência. Aliás, sabia que os bichos morrem, lógico, pois via morrerem os carneiros, os animais de quintal, frangos, galinhas, que eram levados à força ao repasto das pessoas. No entanto ignorava por completo aonde terminavam os humanos, revelação vinda naquela tarde fria, em Crato. 

Primeiro contato direto com o derradeiro ato deste plano, isso mexeu nas minhas imaginações. É tanto que ainda agora lembro e conto. Causou espécie ao juízo do menino que, talvez, desconfiasse tivesse vindo aqui e permanecer feito Azaverus, personagem de Machado de Assis, que não morreria jamais. Desde então pretendo me acostumar com a ideia da morte. Nos conventos, segundo consta das lendas, os religiosos adotavam usar crâneo envelhecido sobre os livros em que meditavam, isto na intenção de preservar em seus pensamento a imagem do que virá adiante, ao baixar o pano do espetáculo.

Muitos fazem de conta que não é consigo o drama dessa página conclusiva, e insistem nas paixões desenfreadas, nos distúrbios e nas festas. Quantas opiniões a respeito, do que poucos reconhecem inevitável. Existe até frase atribuída a um sábio que diz: Viva como se nunca fosse morrer, e morra como se não tivesse aqui vivido. Enquanto eu, sigo buscando compreender melhor esse assunto dogmático e certo.

Um comentário:

  1. Pois é, acho que é a melhor forma de enfrentar a idéia de que a morte existe. Li em algum lugar que o homem é o único ser racional que tem certeza da morte e consegue sorrir. Os animais morrem mas não sabem da existência da morte até que chegue a sua hora. Mas penso que não conheço ninguém que tenha 200 anos, tomo consciência de que ninguém é eterno e até acho que seria monótono saber que viveria para sempre. Enquanto isso vamos sorrir, vamos amar e viver como se não houvesse amanhã. Então é isso, viver o hoje, o passado não volta, o futuro não conheço, o que tenho é o presente, um presente de Deus, a vida. Vivamos entao em toda sua plenitude.

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