segunda-feira, 3 de junho de 2024

Sexo e amor


Antes de tudo, cabia-lhe aceitar aquela condição necessária de viver em paz consigo mesmo e com os outros, parceiros influentes da jornada rumo a tantas cidades e a lugar algum. Depois, o corrosivo da certeza absoluta de saber ao certo para onde caminhar, no comboio das estrelas. Enquanto que a nave deslizava pelo pântano da história sem fim dos imprevistos, gosto de noite ainda na boca, travo provisório de sabê-la deitada, linda, descoberta, sonolenta, e uma vontade insistente de querer sempre, entre os dedos e palma da mão, suas curvas macias... Ser vivo, nascente... Marcas de suor cheiroso nas frestas da janela fechada diante do esplendor da manhã e sua paisagem com pássaros festivos nos ramos agitados da folhagem.

Porém a questão prosseguia dentro dos olhos queimados, sexo ou amor, temas constantes das ondas a quebrarem nas praias cobertas de sargaços da véspera, noite de lua bela no céu, perfeição, jeito claro de mostrar quanta pureza de luz límpida, perfumada, ao sabor das árvores em movimento.

À mesa posta do sonho, lembranças de atividades através de troncos calcinados. Chamas avermelhadas avançavam aos céus, desde fendas abertas na superfície do parque da cidade. Calor não existia. Passos certos de quem conduz grupo de pessoas a lugar garantido. Sem medo. Encostas de inúmeros vulcões, surpresas previstas de território escarpado e misterioso.

No peito, as passadas ao ritmo das batidas dolentes de corações extremados.

Fortes vontades presentes, nos raios de sol que penetram e chegam aos dois corpos adormecidos, em meio a lençóis com o cheiro de gente que se ama, odor de flores silvestres recém abertas ao frio da serra, testemunha silenciosa ali de perto.

Doce pergunta nas páginas lentas dos dias que se sucedem, viver, insistir no livro da vida, amor consistente de pássaros felizes, impávidos.

Quantas vezes balbuciar a antiga oração de fechar corpo e guarnecer a continuidade harmoniosa dos barcos além do mar de cada sonho? E a resposta na franqueza do vazio das horas que invadem o foco, nas esquinas dos minutos incansáveis, refeitos noutras chances de viagem.

Por isso, é preciso continuar, preço da alegria, no desenho da evolução em transe, perante o desespero da dúvida sem argumentos, conquanto a beleza insiste nas curvas do caminho, nexo de todo instante, pouso interno das almas penadas em atividade. Houvesse só batida cadente, monótona, não fossem as variações da pulsação cardíaca, e poder-se-ia defender teses de nulidade para a fugaz esperança fagueira dos segundos exatos, insistentes.

Eles dois, olhos calmos fixos na crença do amor, rasgam a carne em partes simétricas, sensuais, espalhando carícias pela praça... Bichos no cio, cores diversas, combinadas em leque... Nisso, lavas de líquido quente escorre-lhes ao chão...  Cabelos soltos, agitados, sacodem na brisa matinal o acorde invisível de viola imortal, sorriso aberto, lábios e seiva de plantas pisadas espalham pelos corpos dolentes o valor provisório da vida.

Saber-se agradável e prosseguir a trilha da estrada longa, eterna estrada, caberá ao gosto de amar sem medo, o respeito do prazer de existir a cada momento, malhas harmoniosas do tempo; dormir e acordar quem ama em si.

(Ilustração: Reprodução (https://stock.adobe.com/br/search?k=yin-yang).

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