Antes de tudo, cabia-lhe aceitar aquela condição necessária de viver em paz consigo mesmo e com os outros, parceiros influentes da jornada rumo a tantas cidades e a lugar algum. Depois, o corrosivo da certeza absoluta de saber ao certo para onde caminhar, no comboio das estrelas. Enquanto que a nave deslizava pelo pântano da história sem fim dos imprevistos, gosto de noite ainda na boca, travo provisório de sabê-la deitada, linda, descoberta, sonolenta, e uma vontade insistente de querer sempre, entre os dedos e palma da mão, suas curvas macias... Ser vivo, nascente... Marcas de suor cheiroso nas frestas da janela fechada diante do esplendor da manhã e sua paisagem com pássaros festivos nos ramos agitados da folhagem.
Porém a questão prosseguia dentro
dos olhos queimados, sexo ou amor, temas constantes das ondas a quebrarem nas
praias cobertas de sargaços da véspera, noite de lua bela no céu, perfeição,
jeito claro de mostrar quanta pureza de luz límpida, perfumada, ao sabor das
árvores em movimento.
À mesa posta do sonho, lembranças
de atividades através de troncos calcinados. Chamas avermelhadas avançavam aos
céus, desde fendas abertas na superfície do parque da cidade. Calor não
existia. Passos certos de quem conduz grupo de pessoas a lugar garantido. Sem
medo. Encostas de inúmeros vulcões, surpresas previstas de território escarpado
e misterioso.
No peito, as passadas ao ritmo
das batidas dolentes de corações extremados.
Fortes vontades presentes, nos
raios de sol que penetram e chegam aos dois corpos adormecidos, em meio a
lençóis com o cheiro de gente que se ama, odor de flores silvestres recém
abertas ao frio da serra, testemunha silenciosa ali de perto.
Doce pergunta nas páginas lentas
dos dias que se sucedem, viver, insistir no livro da vida, amor consistente de
pássaros felizes, impávidos.
Quantas vezes balbuciar a antiga
oração de fechar corpo e guarnecer a continuidade harmoniosa dos barcos além do
mar de cada sonho? E a resposta na franqueza do vazio das horas que invadem o
foco, nas esquinas dos minutos incansáveis, refeitos noutras chances de viagem.
Por isso, é preciso continuar,
preço da alegria, no desenho da evolução em transe, perante o desespero da
dúvida sem argumentos, conquanto a beleza insiste nas curvas do caminho, nexo
de todo instante, pouso interno das almas penadas em atividade. Houvesse só
batida cadente, monótona, não fossem as variações da pulsação cardíaca, e
poder-se-ia defender teses de nulidade para a fugaz esperança fagueira dos
segundos exatos, insistentes.
Eles dois, olhos calmos fixos na
crença do amor, rasgam a carne em partes simétricas, sensuais, espalhando
carícias pela praça... Bichos no cio, cores diversas, combinadas em leque...
Nisso, lavas de líquido quente escorre-lhes ao chão... Cabelos soltos, agitados, sacodem na brisa
matinal o acorde invisível de viola imortal, sorriso aberto, lábios e seiva de
plantas pisadas espalham pelos corpos dolentes o valor provisório da vida.
Saber-se agradável e prosseguir a
trilha da estrada longa, eterna estrada, caberá ao gosto de amar sem medo, o
respeito do prazer de existir a cada momento, malhas harmoniosas do tempo;
dormir e acordar quem ama em si.
(Ilustração: Reprodução (https://stock.adobe.com/br/search?k=yin-yang).
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