Isso de quando o Sol já sumiu nos declives do horizonte e deixa apenas um rastro luminoso de cores acesas em tons avermelhados. Bem nessa hora, algo acontece a meio dos sentimentos, das lembranças vagas de saudades em turbilhão, que advêm nas derradeiras visões de todo dia. Um som de silêncio perfaz, então, tudo em volta, numa solenidade de causar espanto. Marcas ficaram da mais profunda singeleza que invade o senso e faz regressar insistentes versões doutros finais de tarde, quais sucessivos cenários das vezes quando o coração vislumbrou momentos semelhantes e viveu igual solidão do ser, o que conta de histórias guardadas nos refolhos da alma.
A natureza, então, se acalma pouco a pouco, esquecendo a claridade intensa do amanhecer e persiste na fome de prosseguir através do firmamento a visão de quem deixará de lado, durante tantas horas, o furor da claridade que trazia consigo desde cedo. Virão, decerto, quantas e quantas jornadas. Muitos povos até padecem ao ver o Sol seguir ao longe, temerosos de jamais voltar a vê-lo, e sustentam no íntimo os anseios ainda não resolvidos que ficarão ao desalento na escuridão porvindoura. Acendem luzes nas entranhas das gentes, no empenho de lembrar a luz que some às vésperas dos sonhos. Mergulham nos desalentos da Sombra e adormecem com o tempo em movimento.
As lembranças se entremeiam de quantas histórias que ficaram pelo caminho, relíquias de pessoas, recantos, amores... Bem assim tais nunca sumirão de tudo e regressarão horas sem conta, agora partes definitivas do ser de que somos cicatrizes, recordações, vivências. Traços fortes dos crepúsculos que jazem nisto para sempre, rescaldos da aflição de nunca reviver, porém, o que antes aconteceu.
Essas ocasiões melancólicas dizem disso, da força de sentir e continuar, nas existências que perdurarão fixas nas dobras da consciência que as vê e traduz o desejo de eternizá-las. Numa criação constante, pois, cabe sentir e guardar o alento de sustentá-las nas curvas desta viagem inesquecível.
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