sábado, 22 de junho de 2024

De vez em quando

 

Tais em ondas sucessivas, me regressam as cenas antes presenciadas. Quais peças de um jogo intermitente, sob a batuta de alguém lá de universo misterioso, de alguma cabine nalgum cinema imaginário, vejo de novo lugares, pessoas, episódios iguais aos que vivera, convivera, numa exatidão matemática e sem deixar nada a dever ao que sumiu na trilha do tempo. E o que mais impressiona é trazer junto as emoções que ali ficaram gravadas, num misto de saudade e impossibilidade, conquanto quero tanto poder reviver tantas alegrias, sensações, apegos, longe de quaisquer possibilidades.

Digo de vez em quando, mas que acontecem qual em outro lado de mim e a todo momento; eu e o tempo, dois atores de um jogo persistente de tocar adiante o senso de tudo em volta para sempre. Assim, o que existiu aqui de junto continuará existindo, agora inscrito na minha pele, integrados e idênticos a imagens fixadas em definitivo, semelhantes às tatuagens tão em voga nos dias atuais. Isto bem no próprio corpo, implantados chips do que conhecia e a memória fez questão de guardar, independente que fosse de minha opinião ou preferência, pois também regressam doutras ocasiões menos agradáveis, em que a dor se fez valer e cicatrizou, e permanece de junto.

Ali pelas ruas e praças de Crato, na minha adolescência; as situações incertas doutros tempos no Tatu, a fazenda em que nasci e morei na primeira infância; período de Salvador, de marcas indeléveis; os colégios; os cursos de universidade; jornais; viagens; namoros; festas; noitadas de farra; os amigos; a política; as agências do Banco e os colegas; livros; filmes; músicas; os relacionamentos familiares; os filhos; as coleções; as casas onde morei; os automóveis que possuí; a fotografia; exposições; tudo, enfim, caleidoscópio pertinente do meu mundo em volta, que grudou na minha consciência, uma espécie de somatório do quanto adquiri de experiências e sonhos.

Esses fatores reunidos, pois, são imagens definitivas de uma história viva; falam de forma tão intensa que reclamam a que eu possa contar nas letras e palavras, de significado pessoal que busco partilhar com os demais seres iguais, parceiros da condição de saborear esse gosto inesquecível da existência daqui.

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