quarta-feira, 29 de maio de 2024

O gosto de ser assim


Essa mão que me passa pelos cabelos leva para dentro de mim perguntas insistentes que não querem se acalmar diante do estágio dos acontecimentos. Um frêmito de ansiedade retém o andar das coisas. Passos lentos de surdos fantasmas calam nas paredes da noite. Insistência de reconhecer os limites da consciência. Portas que se abram e mostram formas adversas de estágios antigos. Mesmas interrogações pouco ou nunca respondidas, repetidas quais batidas prolongadas de sino sobre a cabeça adormecida, claros alongamentos de questões arcaicas por vultos cinzentos. Sombras a lutar consigo mesmas, na procura das respostas esperadas. E um ritmo lerdo nas nuvens de pó que sobrevoam velhas arcadas de convento carcomido, eco estridente no velho casarão das almas em desfile monótono. Turnos disformes, tropel de poeira esfumaçada, névoa densa contra cores luminosas. Pisoteio de manadas em fúria. Novas experiências de arrancar disfarces interpostos nos ombros suados de massas dominadas por ventos adversos. Gritos alarmados. Soldados perdidos em florestas agressivas. Sonhos de promessas estrangeiras. Lúgubres pelotões exangues, abandonados em estradas lamacentas. Turnos vagos de pássaros em fúria. Aves migratórias que voam no verão pleno, em volteios alongados, melancólicos. Seres apressados  descem os véus escuros da noite coberta de estrelas luzidias. Ausência de saudades, na calma e no frio. Hordas bárbaras retomam o firmamento da memória e indagam detalhes antes esquecidos. Existissem rios que corressem no ar e práticos atores avançariam com seus instrumentos de busca e decerto recolheriam as cordas soltas dos helicópteros de resgate. Nada disso, contudo, importa mais, em face das previsões incertas que esqueceram nos corpos os animais, perante a feira de sofridos elementos enviesados e inúteis. Patrões, operários, indústrias, efetivos militares. Notícias débeis. Conflitos abismados. Sonata suave esfarela notas de encontro aos paredões da serra. Mostras externas de sagrados corações. Folhas secas. Desertos aquecidos. Água a escorrer dos tetos escuros, pontes e flandres amassados nas bordas, a deixar entrever as cicatrizes quase imperceptíveis de batalhas registradas nos calendários das borracharias, nas estradas cobertas de húmus e telhas desenhadas de lodo. Alfabetos misteriosos, fórmulas mágicas, ritos insistentes, sacerdotes embriagados. Naves aceleradas em alta velocidade. Panos jogados nas correntes em movimento. Sentimento exigente. Cândidos sinais de melhores dias. Multidões que se arrastam, na pista quente escura. Óculos, silvos, postos de combustíveis, iluminados, tambores cadenciados... Chances de amanhã, imagens que se sucedem a deslizar pelos dentes. Surpresas de sal e açúcar, açúcar e sal. Surpresas... Cálidos campos silenciosos em noites de lua clara. Mantos esverdeados no imenso do horizonte, mas que dançam feitos bandeiras de longos pelotões em marcha. Janelas fechadas. Rostos alertas. Olhos que, vivos, se abrem,

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