Às vezes saio correndo atrás das ideias quais se viessem a desaparecer logo ali na próxima esquina, e mesmo assim elas desaparecem furtivamente quais nunca houvessem existido. Espécie esquisita de seres que dão de cara comigo, ficando assustados quando quero romper as cascas que os envolvem, e somem tais vagalumes largados à imensidão das noites. Isso já remonta as cordas invisíveis de tudo que ocorre aos meus momentos; e parecem fluir das máquinas de um poder impossível que existe nalgum lugar aonde quero chegar um dia. Mas que existem, existem, sendo só saber disto insuficiente a provar do quanto fico aguardando resolver a qualquer ocasião. Nisso, nós, aqui, seus meros expectadores, efetivamos diferentes oferendas mil, fascículos do que vêm e vão, serviçais do Destino sob o manto das miragens sucessivas. Andamos entre dois espaços, também agora inexistentes, o passado e o futuro; pelejamos conosco próprios, à busca das portas que venham sustentar de vez o fio invisível das horas que passam bruscamente e, na voragem, nos esquecem.
Tudo, porém, diante de nossos mesmos olhos acesos, que
apenas fitam as garras do espaço, instrumentos do aparelho
digestivo dos instantes ora cativos; pessoas, laços de sonhos em forma
de minúsculos autores de histórias inesperadas, furtivas, fugidias. Contamos os
únicos trocados do soldo que recebemos, pisamos cascalhos inextrincáveis dos
ontens ausentes e adormecemos aos acordes das melodias que tocam no silêncio da
alma, entre o céu e a terra; duendes nas florestas do mistério,
dedilhamos leves harpas imaginárias e solfejamos as notas do Infinito ao
nosso ver e resistir.
Quantas vezes aguardamos supremas revelações que fossem, no
entanto reviramos nos lençóis as horas de madrugadas inteiras, nos desejos que
sustêm a fome dos apegos e da saudade. São gritos fortes, distantes, que
ecoam pelas quebradas do firmamento. Vultos silenciosos tecem ali segredos, na crosta
da consciência, e somem feitos quem desde longe ainda sobrevivesse aos caprichos
da sorte. Semideuses doutras dimensões, chegam e saem
pelas mesmas frestas de onde vieram; criaturas lendárias, símbolos das lembranças
do que consigo sumirá na mais pura inexistência, e ainda assim permanecem afeitos
à memória dos que viverem outro tanto. Afinal só o Tempo nasce, sendo ele o
motivo de tudo quanto haverá de absoluto hoje e sempre.
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