quinta-feira, 16 de maio de 2024

Marcas do tempo II


Os ídolos de cada geração falam de perto disso, do quanto deixaram de sinais na nossa pele no decorrer daquilo que vivemos até hoje. Quais voltássemos a transitar naquelas horas que sumiram, com isto regressam emoções, as lembranças, aulas inteiras do visto e do vivido. Lá nalgum lugar da gente permanecem acondicionadas em fardos indeléveis, tais troncos retorcidos de árvores petrificadas, o que seremos nas memórias. Civilização de um a um, naufragamos pelos becos do tempo que passou feitos fantasmas na busca de sentido. Muitos, quantos, tantos.

São imagens, sons, melodias, cores, sustos, contradições, lembranças profundas do que gestou a nós mesmos, essas esculturas talhadas no mármore do Eterno, depois largadas no chão das almas que o compomos.

Daí vêm saudades, anseios de, quem sabe?, sonhar no vazio que ficou após sumir de tudo no mundo dos objetos. Reconhecer pessoas, entes silenciosos que preenchem as ruas, de cabelos esbranquiçados, vozes roucas, olhos vagos, interrogações fartas de tanto caminhar. Restam, às vezes, pedaços informes nos derradeiros filamentos de jornada que varejam o Destino e logo adiante apagam no seio dos mistérios.

As manhãs, tardes, noites, falam das lendas de antigamente no ciciar das matas, nos animais que gritam pelas encostas da Serra, isso que deixa sintomas das vivências nos céus e nos corações. A reviver, dorme tão só nas aparências e nos desejos. Perante o teto das consciências ainda passeiam todos que conosco estiveram a qualquer momento. nessa estrada longa, infinita, tal seja, o calabouço das visões.

Contanto sejamos, pois, meros autores da nossa história, ali construímos um quanto de aventuras lavradas fora nesse dizer das indagações que o seremos desde sempre. Das heranças de que fazemos parte, moram nas criaturas humanas o princípio universal da perplexidade, e senhores do ser que ora somos, tocamos levemente os braços desta infinitude e adormecemos outra vez.

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