É que mesmo quando as palavras nada digam, elas querem dizer, sim. Falar dos impossíveis de alguém que nem sequer ainda existe, pois vive adormecido sob os trastes de tanto ouvir dizer nalgum dos hemisférios deste ser que arrasta a cauda pelos desertos das vidas de onde dormem. Ele, este albergue das noites em claro, mora consigo durante existências inteiras e dele tão só escutamos, longe, os balbucios. Conquanto cercados de mil detalhes de um todo, colhemos apenas rápidos lampejos daquilo que queremos contar e de que quase nada ouvimos. As pegadas ficam, pois, gravadas nas paredes do coração e sempre despertamos de um nada que conhecemos daquilo que ele, o Inconsciente, nos havia dito a pano solto, no entardecer das gerações, o que, no entanto, de ninguém que fosse a fala doutro universo. Dois que calam o que querer narrar, porém numa linguagem difícil, truncada, face a face com os rochedos em volta.
Nessa procura desencontrada, seguem todos, ou alguns que fossem. Vultos fantasmagóricos de lendas absurdas, sobem ao teto das ausências e de lá mandam seus recados aflitos. São sonhos, impressões de viagem, revivescências de tempos inexistentes, meros aspectos em forma da herança que chega todo momento; sussurros da outra margem da gente mesma. Olhos que nos veem lá de dentro e fogem na pressa rumo ao desconhecido imediato. Ao final, resta a fome de sentir que fere e de novo aguarda melhores dias de poder, quem sabe?, descrever aquele país imaginário que habitara as condições humanas.
Assim tem sido perante os céus. Vontade intensa de, afinal, rever o coro dos contentes, outrossim dotada de pouca ou nenhuma disposição de fugir da realidade imediata. Há qual o que um ente amorfo em formação no ventre dessas horas que passam. Ali estariam levas inteiras de fantoches na forme de conhecedores embriagados de destinos informes. Somos isto, perseguidores da Luz no jeito de viajantes esquisitos, assustados da própria consciência neles em formação. A barreira dos ouvidos calados, incólume, se abe aos poucos peregrinos à margem do Infinito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário