domingo, 20 de setembro de 2015

Brizola no Cariri

Por volta das 10h do dia 18 de agosto de 1989, em plena campanha presidencial, chegava ao Cariri, para atividades eleitorais, o candidato Leonel Brizola, do Partido Democrático Trabalhista - PDT. À época, eu era o presidente do diretório municipal do partido em Crato, onde cumpria mandato de Vereador, e acompanhei de perto todas as etapas daquela visita.

Do Aeroporto do Cariri, seguíramos ao centro de Juazeiro do Norte, onde, nas proximidades da Praça Almirante Alexandrino, se deu um comício, na rua larga que vai ao Memorial Padre Cícero, com palanque armando onde hoje ficam as paradas de ônibus. Achavam-se presentes os principais responsáveis pela agremiação no Ceará, Flávio Torres, deputado federal Lúcio Alcântara (então recém admitido no PDT), Mariano de Freitas, deputado estadual Paulo Quezado, Carlos Macedo, Hypérides Macedo e outros de Fortaleza, além de lideranças do interior.

Após as falas em Juazeiro, Mariano de Freitas, o coordenador da visita, passou a mim o compromisso de trazer Brizola até o Crato. 

Na ponte do São José, divisa dos dois municípios, companheiros nossos aguardavam, em dezenas de carros, iniciando daí animada carreata com som e fogos. Logo adiante, na Gráfica Universitária, houve pequena parada, em que Lázaro Fontenele, seu proprietário, ofereceu rápida recepção aos visitantes.

Seguimos, após, pela Avenida Teodorico Teles, para o centro da cidade. Na noite anterior, fizéramos pichamento e puséramos faixas alusivas à data. Uma dessas faixas (Brizola, campeão da democracia) se instalava no cruzamento das ruas Tristão Gonçalves com Almirante Alexandrino, por onde passamos antes de entrar na Rua Dr. João Pessoa, e fora lida com atenção pelo visitante. Nas calçadas, larga emoção do presentes, com as saudações efusivas de centenas de populares. 

Maiores emoções se reservavam, no entanto, para a multidão que se formava na Praça Siqueira Campos, quando Brizola desceu do carro e se dirigiu à multidão que o recebeu com carinho. Lembro bem das palavras de Paulo Quezado, nessa hora, a comentar: - O Crato é sempre o Crato! -, referindo-se aos modos como aclamavam o personagem das lutas políticas nacionais de 1961, mentor da Cadeia da Legalidade, garantindo assim a posse de João Goulart na Presidência da República, depois da renúncia intempestiva de Jânio Quadros. 

Era por volta das 12h. A nossa organização não planejara concentração de rua em comício aberto, porquanto a exiguidade da agenda caririense isso impediria. Contudo, ali mesmo na Siqueira Campos, improvisou-se ato relâmpago, com Brizola subindo no capô do carro de som de Luzimar Alves e dirigiu-se ao povo no seu estilo inflamado, palavra categórica.

Logo depois, marchamos ao Palácio do Comércio, que abrigava lotação das mais numerosas no espaço tão exíguo de auditório. Políticos locais participavam da cena, no meio dos quais lembro Humberto Mendonça, então membro do partido, sob cuja legenda eleger-se-ia, no futuro, Vice-Prefeito do município, na chapa de Antônio Primo de Brito.

No decorrer daquelas movimentações em ambiente fechado, senti alguma apreensão por conta da pouca margem de manobra que dispúnhamos num evento de tal envergadura, porém só restou aguardar com tranquilidade o encerramento das atividades. 

Ao sair, percorremos de carro algumas das ruas cratenses. Defronte ao Banco do Brasil, a pedido de Brizola, ainda fizemos rápida parada junto a uma banca de frutas à beira de calçada, quando ele comprou algumas frutas. Outra vez passamos pela Rua Dr. João Pessoa, contornamos pela Praça da Sé, subimos a Avenida Duque de Caxias e rumamos de volta ao Aeroporto Regional do Cariri, onde nos despedimos daquele grande líder da história brasileira da segunda metade do século XX que, por mais fizesse, apenas obtivera sucesso nas eleições de governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro.

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