quarta-feira, 25 de outubro de 2017

O anjo de mármore

Esta história a ouvi de meu pai. Dá conta de familiar nosso, João Augusto Bezerra, médico em Crato nos princípios do século passado, que aqui desenvolveria a clínica geral. Casado com Maria Prisce Augusta Bezerra, tiveram um filho, Aloysio, que, criança de quatro anos, seria acometida por doença rara, vindo a falecer a 11 de novembro de 1911. Os pais, perdidamente lacerados com a triste perda, nem quiseram permanecer no Cariri e buscarem outro destino. Contudo, no auge do sofrimento, antes de partir providenciariam, ao filho desaparecido, a lembrança de bem cuidado mausoléu encimado por pequena estátua de um anjo de mármore branco, peça bem trabalhada, de exímio artista, que deixaram a constituir decoração na sepultura do filho amado. 

Adiante, isto décadas passadas, comerciante vinculado a famílias cratenses, que vivia na Capital paulista, negociante de objetos artísticos, imagens de santos e relíquias sacras das igrejas, soube da existência da raridade estética do anjo e tratou de revertê-la ao comércio dos colecionadores.

Contou meu pai que desde o momento em que o anjinho de mármore pousou no estoque do santeiro que desandaram os acontecimentos no meio das raridades sacras; não só na vida pessoal dos proprietários, quanto na suas vidas profissionais, nada dando certo no empreendimento do dito homem. Aos primórdios, nem de longe desconfiou das causas daquilo tudo. No entanto, lá numa noite, em sonho, lhe seria determinado que devolvesse a escultura, repondo-a na real localização, o que logo tratou de fazer sem maiores adiamentos.

Durante algum tempo, o monumento permaneceu encostado perto do altar da capela do cemitério, onde avistei em várias ocasiões. Quase esquecido desse assunto, recente avistei o anjo já na composição de um dos mausoléus do Cemitério de Nossa Senhora da Piedade, em Crato. E juntamente com meu amigo Huberto Tavares (Bebeto), a quem narrei os acontecidos, graças ao anjinho de mármore, visível sem esforço, identificamos o túmulo de Aloysio. Está logo na entrada à esquerda de quem chega, posto no alto da construção, ainda com uma das asas danificadas, talvez cicatriz da viagem distante a que teve de se submeter às terras do Sudeste, na tal jornada clandestina, mas que ao término bem sucedida. 

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