segunda-feira, 9 de outubro de 2017

O ajudante de caminhão

Viajando com Ciro pela Rodovia Padre Cícero, qual filme passando na minha cabeça, revi os tempos da infância quando subíamos e descíamos a Serra de São Pedro em busca do Tatu, aonde desfrutávamos as férias do meio do ano depois de irmos morar em Crato. Lembrei, dentre outras vivências, das vezes em que ali percorríamos a famigerada Curva da Morte, lados do Cariri central, ponto nevrálgico da estrada. Quanta aventura viveram os heroicos motoristas dos caminhões, a sofrer agruras sem par naquele trecho da estrada, sobretudo. Às vezes em períodos invernosos, com cargas pesadas, máquinas precárias, quando defrontavam verdadeiras loterias de vencer o abismo das encostas. Por mais força tivessem os carros, andavam sempre junto de um profissional imprescindível , chamado ajudante, que, nas horas de perigo, saltava e corria próximos, a calçar o cepo nas rodas traseiras dos veículos, metro a metro, na intenção de conter o peso da carga e deter a incapacidade física do motor face aos íngremes desafios. 

Nenhum caminhão deixava de possuir o ajudante, nas suas viagens pelo Sertão. Estradas de terra em precárias condições assim o exigiam. O tal cepo era uma peça de madeira triangular acrescida de um cabo de manuseio, que calçava o transporte naquelas horas extremas. O profissional também assessorava o motorista na troca de pneus ou consertos do mecanismo, além de auxiliar na carga e descarga dos caminhões. Eles eram de reconhecida importância em muitas ocasiões, havendo alguns de boa qualidade técnica, o que lhes garantia facilidade na obtenção do emprego.

Relembro, pois, esses personagens ora inexistentes, que tanto contribuíram no desenvolvimento dos interiores à época da abertura das primeiras vias do automóvel, com ênfase na primeira metade do século XX. Que não fossem tão habilitados quanto os profissionais do volante, no entanto por demais necessários à convivência da tecnologia e a rusticidade dos caminhos que trouxeram o progresso da atual civilização. 

Um comentário:

  1. Acho que nesta época as cidades do interior eram muito parecida desde. A ausência de transportes modernos, restavam os animais de cargas, trens cargueiros, e os jeeps para quem tinha mais posses. Mas o estilo era muito parecidos. Como é bom recordamos nossa vida convivendo com aquelas pessoas tão simples, mas tão felizes...

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