sábado, 14 de outubro de 2017

As definições

Quantas atitudes no dizer sem voz. Querer explicar o inexplicável diante de tudo, naqueles momentos cruciais de existir, de buscar justiça nas palavras, o que nelas não cabe. Florestas de respostas prontas virou este mundo. O desejo incontido das justificações, nos conceitos de errado ou certo. Tapar o sol com peneira de folhas e cipós, de dominar o indominável. Palavras. Palavras. Palavras.

Esse instinto dos humanos em controlar o tempo de respiração nas falas, acalmar o desespero em discursos ou coisas físicas, eis o ato de plantar raízes mortas no fluir das horas que sumiram há pouco. Ah, qual quisessem evitar o inevitável, de sumir pelos buracos negros dos depois. Gigantes seres os bípedes sem penas. Dormem presos a si mesmos e acordam aflitos da angústia da má companhia que assim representam. 

Mas, nas definições, amortecem a própria morte, e nisso adquirem bagagens que as largam à porta do cinema da Eternidade. Só de memórias vivem tais espécimes dos guerreiros esquisitos. Sobrevivem à custa do que juntam no decorrer das vaidades. Transpiram nas competições consigo mesmo, ao impulso das dores que anestesiam na indiferença para com os demais.

Presos a cabaças que deslizam secas nos rios da memória, sustêm os fiapos de inutilidade no prazer que foge. Definem. Escrevem. Postulam nos tribunais. Marcam encontros secretos. Preenchem as agendas do inútil no troco do nada. Enganam e se enganam. Contudo definem, deixam seus registros nas pedras, marcos nos fins dos caminhos e lápides de frases emocionadas, quando partem.

Ingênuos componentes dos átomos que se decompõem ao vento da sorte. Pequeninos animálculos desconfiados e esbeltos. Aves presas aos chãos da dúvida até da existência e do Eterno. Primatas inveterados da única solidão a dois que jamais deixará o palco com respostas definitivas, que pedem algo além das definições vagas com que encheram o Velho Mundo. Somos, pois, a pergunta e a resposta. No entanto. Diga. Mostre. Exista.

(Ilustração: O alquimista, de Pieter Brueghel, o Jovem).

4 comentários:

  1. O corpo fala”, os escritos também . Quantas emoções e sentimentos se pode expressar sem nada dizer. Nas atitudes, nas expressões corporações , muitas vezes até no olhar. Os olhos, janelas da alma, transmitem paz, luz, raiva, através de um olhar muitas coisas podem ser transmitidas. Texto maravilhoso. Bom dia amigo Emerson Monteiro.

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  2. Tantas coisas para lhe falar, tantos segredos, tantos sonhos, tantas palavras soltas que para você talvez nada represente mas que para mim são palavras, em forma de poema, não culto quanto os seus textos mas tão fortes quanto . Tenho medo de dizer tudo que talvez nunca lhe direi mas fazem parte da minha. Mas uma coisa eu posso lhe falar: você é minha luz, minha paz, meu sossego! Meu refúgio, meu sonho, meu amigo, meu irmão meu tudo e mais... e mais... um grande abraço Emerson Monteiro.

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  3. Relendo o meu comentário percebo que falei mais do que o normal, quando deveria se fazer presente o silêncio. Mas às vezes as palavras superam o silêncio.

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