quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O crime de Prometeu

De todos os imortais titãs, era Prometeu o mais esperto. Ele havia lutado ao lado de Zeus e de outros titãs na guerra em que venceram Cronos. Além da coragem, mantinha consigo alguns propósitos de independência no trato com a humanidade, existindo, em razão disso, a versão não oficial de haver sido o responsável de forjar, do barro e da água, os seres humanos, concedendo-lhes dotes especiais de pensamento, artes e outras habilidades, quais estudar os astros e na luz deles viajar pelos mares afora.

Esse apego que destinou aos homens mexeu com os brios de Zeus, sobretudo na ocasião em que ele se viu ludibriado na escolha entre duas porções de um boi que Prometeu envolveu em duas bolsas, pondo a carne em uma e, na outra, na maior, só ossos e gordura.

Cônscio das suas habilidades, Zeus preferiu a parte mais acrescentada, deixando-se levar pela aparência das coisas e por essa brincadeira retirou o fogo da humanidade para que não preparasse a carne que recebera da partilha de Prometeu.

Em represália a Zeus, Prometeu subiu ao Monte Olimpo, retirou o fogo da carruagem do Sol e trouxe-o para os homens, escondido dentro num talo de erva-doce.

Ao perceber lá de cima o clarão das fogueiras, furioso, Zeus, incontinenti determinou ao ferreiro coxo de nome Hefesto que produzisse da argila uma deusa de beleza incomum, mensageira dos maus presságios da raça humana.

Desse jeito surgiu Pandora, proprietária de muitos dotes ofertados pelos deuses e predestinada a esposa de Epimeteu, irmão idiota de Prometeu.

Face ao desenrolar dos acontecimentos, quando na casa do marido, houve um dia em que Pandora achou abandonada pelos cantos a caixa em que Prometeu e o irmão guardavam a doença, os vícios e a velhice, poupados da humanidade na hora da criação.

A deusa não resistiu à curiosidade. Abriu-lhe a tampa e deixou escorrer os infortúnios que ainda hoje povoam a Terra. Imprudente, ainda quis devolver o lacre à caixa, quando lá de dentro ouviu a voz da esperança, que pedia liberdade e, solta, voou para minorar as dores dos humanos.

Enquanto isso, Zeus decidiu punir Prometeu. Num gesto extremo, acorrentou-o aos rochedos de um monte, sob sóis escaldantes e gélidos climas, segundo dizem, no Estreito de Gibraltar, junto das portas do Mar Mediterrâneo.

Séculos sem fim, todo dia, uma águia gigantesca dele se aproximava a rasgar-lhe as entranhas e comer parte do fígado, o qual, no trânsito das noites, voltava a se recompor.

Reza a tradição da Grécia Antiga que Zeus necessitou, certa vez, de segredo importante só conhecido de Prometeu e escalou Hércules, um dos seus filhos, que viesse e libertasse da penitência o bravo titã, desse modo pondo-o outra vez no gozo da infinda liberdade.

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