sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Miguel Lobo

Quando cursava o segundo grau no Colégio Diocesano, em Crato, primeira metade dos anos 60, fui seu colega. Jovem de baixa estatura, troncudo, rosto largo, cabeça grande e arredondada, sertanejo típico de riso fácil, era portador de inteligência fulgurante. Ex-aluno do Seminário São José, trazia consigo acendrado gosto por literatura e redação, o que nos aproximou e, juntos, na quarta série, produzimos um jornal mural na disciplina de português, ministrada pelo Padre Newton Gurgel, o Nossa Opinião, logo adiante transformado em jornal mimeografado, quando presidi o Grêmio Farias Brito, do mesmo colégio.

Miguel Lobo marcou época no mundo estudantil cratense daquele tempo. Discursava como poucos, eloquente, carismático, correto no uso de palavras e argumentos, seguro e expressivo, qualidades que acabariam por levá-lo à presidência da União dos Estudantes do Crato – UEC, na eleição de 1965. Nessa fase, as campanhas para a Diretoria da UEC abalavam céus e terras. Os postulantes visitavam os colégios e grupos escolares, de sala em sala, mobilizando cidade e população, qual trabalhassem política municipal de efeitos coletivos maiores.

Aquela eleição de 1965 envolveria duas fortes chapas. De um lado, como Presidente, Miguel Lobo. Do outro, para o mesmo cargo, Arão Alencar, na qual também figurei como candidato a Secretário, Mitermaia de Olinda, a Orador Oficial, e Arnaldo Alencar, a Tesoureiro, além dos demais cargos.

No desenrolar da campanha, acirraram-se os ânimos a níveis descontrolados, ocasionando, inclusive, animosidade séria entre os grupos opositores que resultariam em agressões físicas, sendo uma das vítimas o próprio Miguel, alvo que fora de absurdo espancamento perpetrado nas imediações do canal do Rio Grangeiro, quando retornava para casa, em horas noturnas. 

As consequências disso afetaram em cheio o resultado das urnas e a chapa que liderava saiu vitoriosa do pleito, vindo, com sucesso, desempenhar o mandato à frente de nosso principal e atuante órgão estudantil.

Dois anos depois, em 1967, Miguel Lobo deixara o Colégio Diocesano para concluir o curso médio no Colégio Estadual Wilson Gonçalves, e dele não mais soube notícias.

Em dias recentes, indaguei a seu respeito de pessoa vinculada aos Inhamuns, região de onde se originara, e soube apenas vagas informações, que deram conta de haver abandonado o estudo para assistir os familiares, ora vivendo longe de compromissos sociais, numa existência modesta, fora de tudo.

Tranquilo, brilhante, Miguel Lobo destaca-se, pois, nos tantos bons valores humanos que conheço neste mundo rico de personalidades notáveis, a preencher lugar especial na memória do meu período de adolescência vivido no Cariri. 

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