sábado, 10 de janeiro de 2015

A fuga de Lot

Depois de comunicar a Abraão e Sara o nascimento próximo de Isaac, que representaria a semente da geração do povo judeu, eles três partiram a caminho de Sodoma, onde se avistariam com Lot, sobrinho de Abraão que lá vivia.

Antes, porém, ficaram um pouco mais a conversar quanto aos detalhes da missão que adiante iriam cumprir. Disseram a Abraão que Sodoma e Gomorra chegaram no limite da tolerância da Lei, em face dos desmandos praticados através das misérias da carne.

Os viajantes seguiriam para comprovar no local a triste realidade e deflagrariam em seguida as extremas providências de exterminar aquelas duas cidades da face da Terra, hecatombe depois registrada pelos povos da Antiguidade.

Sabedor do grave prenúncio, o patriarca ainda quis argumentar que a medida prejudicaria também os justos que porventura vivessem no seio daquela gente. Daí estabeleceram cogitações dos quantos virtuosos merecessem clemência do Poder.

- Cinquenta? Quarenta? Trinta? Vinte? Dez? – saíram enumerando.

- Caso houvesse ao menos cinco justos, em respeito a esses tais preservar-se-iam as duas cidades – disseram os mensageiros, enquanto cuidavam de prosseguir na caminhada.

Dos três homens, só dois entraram em Sodoma e se depararam com Lot à porta de sua casa, que, ao vê-los, prostrou-se de rosto no chão e lhes ofereceu hospedagem. No entanto queriam observar a cidade, por isso recusaram o convite. Todavia, diante dos insistentes rogos de Lot, aceitaram pernoitar na sua residência. 

Quando os habitantes da cidade souberam da chegada dos forasteiros, logo, numa atitude hostil, cercaram a casa. Reclamavam de querer abusar do corpo deles, tamanha promiscuidade dominava os costumes do lugar abominável.

À menor intenção invadir o recinto, e querendo neutralizar a horda brutal, Lot ofereceu as próprias filhas com isso querendo neutralizar a fúria dos bárbaros. 

Inexistia qualquer chance de conter a fúria animal do que armavam. Nisso, ao erguer as mãos, os dois hóspedes detiveram o grupo dos agressores de imediato tornados cegos, que, tontos e sem rumo, abandonaram o local.    

As virtudes de Lot e seus familiares vieram a possibilitar que na madrugada do dia seguinte abandonassem a cidade na direção da pequena vila de Segor, aonde permaneceriam pouco tempo até se instalar nas montanhas das cercanias.

Única instrução que receberam dos dois visitantes, que no decorrer da fuga, em nenhuma hipótese, olhassem para trás querendo ver os escombros da cidade que abandonavam.  

Então, com a partida do grupo, o Senhor despejou dos céus chamas da justiça mais extrema e transformou as duas cidades num turbilhão de pó, cinza e enxofre, encobrindo-as sob tormentosa nuvem de fumaça escura.

Nem ao menos cinco justos habitavam aquelas paragens, se cogita.

Aflitos e desalinhados, silenciosos, apenas Lot e as duas filhas que possuía largavam o passado nas estradas, porquanto, no contraste das sombras primeiras sombras da noite, ao longe, fria estátua de sal resumia tudo o que restara da desobediência da esposa e mãe, a refletir derradeiros claros do sol posto no íntimo do horizonte.

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