Nada há de mais real do que as histórias que ouvimos quando criança, do tempo em que existe a inocência de guardá-las qual pedaços da própria vida. Isso hoje me faz caminhar no passado em galerias imensas de imaginação, tais universo de muitas cores e formas, roteiros, acontecidos, tão presentes como os trapos de realidade que transcorrem às vistas, no cotidiano apressado dos dias de hoje.
Certa vez, ouvi meu pai contar uma história de quem, vivendo
em Bodocó, no Pernambuco, avistara num sonho o local, no interior de Minas
Gerais, aonde descobriria raro tesouro e, nisso, ficaria rico.
Ao despertar, o homem logo decidiu mudar de destino naquele
sertão seco e viajar até quando achasse o tal tesouro visto no sonho. Junto à
família, explicou que precisavam procurar outros rumos, daí seguindo mundo
afora.
Na fazenda em que chegaram, pediu trabalho e instalou-se com
os seus. Seguiu durante alguns anos a servir naquelas brenhas sem que nada
acontecesse a indicar qualquer mudança na sorte deles.
Lá belo dia, no entanto, no eito da fazenda, um dos
agregados lhe contou que vira, num sonho, o nordestino regressar à sua terra e
achar uma botija, enterrada de muito anos, contendo peças de ouro. Daí,
descreveu em detalhes o canto disso localizar, perto da casa da mesma fazenda
em que morara, debaixo de uma pedra maior, indo cavar e encontrar a
preciosidade.
Assustado, já depois de vários anos fora, lembrou donde
viera, sítio idêntico ao que o amigo descrevera. Daí, mais que depressa tratou
de acertar as contas no trabalho e trazer de volta a família ao velho rancho em
que vivera.
Reviu a todos no reencontro, e foi de morar, de novo, no
mesmo canto cuja casa ainda estava vazia. E pouco a pouco, bela noite, cavaria
o ponto exato de que fora avisado, adquirindo tudo o que vira no sonho antes de
ter de ir lá tão longe.
Assim, de comum tudo está tão perto e se carece de ir distante
buscar, e então saber que, enfim, havia junto de nós desde sempre.
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