sábado, 14 de setembro de 2024

No circo das palavras


São atrações de não acabar mais, porquanto de tudo ali se encontra, nesse mar das tantas vidas. Picadeiro imenso, do tamanho dos pensamentos movidos a sentimentos, orquestras e sensacionalismo, visões inesquecíveis de tudo quanto há neste chão. Qual deserto ilimitado pela própria consciência, crescem de paixão toda vez, face aos sóis de luz e calor, os olhos de uma plateia embevecida.

Nisso, vêm as apresentações na forma das ideias incontáveis a fervilhar o íntimo das criaturas aos mínimos toques metálicos dos pratos e o rufar constante do furor dos músicos. Animais amestrados, quase gente, repetem as cenas premidos pelos estalidos dos chicotes pelo salão iluminado. Palhaços que titubeiam cenas adentro feitos máscaras de si mesmos, a encantar crianças e adultos, símbolos da história de todos, a meio de nenhum de nós, as caricaturas do Destino.

No alto dos trapézios, cenas arriscadas de belas atrizes que percorrem os ares nos voos inigualáveis, sacudindo de emoção as noites de festa dos expectadores abismados. Lembro sempre desse tempo a fervilhar as entranhas, incontáveis notícias das épocas antigas que permanecem fixas nas entranhas destes universos noturnos. Elas, as palavras que escorrem assim no leito das ruas, nas encostas de multidões inteiras, sinais da imortalidade em forma de criaturas humanas delirantes. Bem isto de escrever qual quem apenas escuta dalgum lugar falas misteriosas a dizer doutros mundos, a trazer quantas histórias estimáveis vividas e sonhadas pelos céus abertos do Infinito.

Enquanto isto resistem, na sequidão dos momentos sucessivos, inúmeras saudades, persistentes, imortais, pedaços dos céus na alma das pessoas em movimento constante gritam. Depois, ao andar das funções, o drama; na escuridão do palco, atores, enredos e silêncio, a tocar de vez o coração atento dos protagonistas que os assistem envoltos em sonhos ainda distantes a vagar nas folhas da imaginação.

Quando, só então, tudo acalma, e resignados todos regressam às casas, alimentados nos amores do espetáculo, a quase meia noite, instante por demais propício aos melhores segredos que levam consigo, nascidos outras ver no calor das lembranças mágicas dessas horas incontáveis da existência que continuará.

(Ilustração: Circo Americano).


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