Em dias do mês de outubro que passou, a convite de Geraldo Willian de Araújo, Secretário de Cultura e Turismo de Brejo Santo, integrei a equipe de palestrantes da I Conferência Municipal de Cultura daquela localidade.
Ocasião não poderia ser mais
propícia para efetivar um retornou aonde vivi durante quatro anos, exercendo
funções junto ao Banco do Brasil. No dia 27 de junho de 1967, tomaria posse
como funcionário da agência de Brejo Santo e ali permaneceria até julho de
197l, quando fui transferido para a agência centro de Salvador, na Bahia.
Brejo Santo hoje representa o
progresso exemplar do Cariri. Situado em área de índices pluviométricos acima
da média, o município é dotado de solo favorável ao cultivo de grãos, possui
fazendas de gado e indústria e comércio vicejantes, impondo sua liderança na
política do Estado. Povo trabalhador e ordeiro, destaca-se pelo zelo na
organização que pude testemunhar em comparação de três décadas quase de todo
ausente do lugar, exceto em raras oportunidades de viagem quando por lá
transitei na estrada.
Algumas avaliações se deram
dentro de mim. Vi o tempo passar aos meus olhos na face de pessoas as quais
nesse momento reencontrei. Dizem os filósofos que o tempo não passa. Quem passa
são as coisas e as gentes, enquanto a Eternidade permanece e os entes vêm e
vão, no decorrer da maré interminável das eras contínuas.
Lembrei com saudade quantas vezes
percorri a distância entre Crato e aquela cidade, no auge de fase da vida cheia
de ansiedade e sonhos, o período da pós-adolescência que redundava em
profissionalização. Quase que permanecia pouco em Brejo, nos fins de semana.
Meus pais seguiram vivendo em Crato e me impacientava de permanecer no local do
trabalho. A estrada era ainda de terra. Asfalto havia até Barbalha. Naquele
meio tempo, presenciei a construção dos trechos asfálticos Barbalha – Unha de
Gato e a BR-116.
Nunca saiu de minha memória o dia
em que cheguei para a posse no Banco. O expediente principiava às 12h30. Desde
mais cedo permaneci na praça em frente da agência aguardando lhe abrissem as
portas. Logo chegou um outro concursado, João Batista Carvalho de Araújo, que,
como eu, também iniciaria sua jornada bancária naquela mesma tarde.
Desde Brejo Santo, acompanhei o
desenrolar crítico da história das grandes transformações por que percorreu a
recente humanidade. Os espasmos da juventude no mundo, a rebelião de 1968, o
aceleramento das relações políticas no Brasil e a radicalização das ações
militares, a Passeata dos 100 Mil, o assassinato de Robert Kennedy, Martin
Luther King e Malcom X, na luta norte-americana dos direitos civis, o movimento
“hippie”, o festival de Woodstock, a explosão da literatura fantástica
latino-americana, o Cinema-Novo, o Tropicalismo, o exílio dos compositores da
vanguarda musical brasileira, o extremismo da esquerda na guerrilha do
Araguaia, The Beatles, The Rolling Stones, etc.
Numa só manhã de aparentes rotina
e normalidade, espécie de cachoeira vigorosa destampou sua força na minha alma,
guardados em flor os trinta longos anos de emoção acumulada na saudade de mim
transposto nos acontecimentos pessoais em face de um ponto de referência
inicial.
Quantos planos, tantos amores,
caminhos percorridos, contradições, equívocos, a idade, a matéria, os ideais de
vida, valores, grotões, pisaduras, nada melhor para dizer dos “pensamentos,
demandas, propostas, necessidades e desejos da população, contribuindo para
realização de um amplo diagnóstico da diversidade cultural”, conforme os
objetivos da conferência registrada no programa. Grato, pois, aos seus
organizadores por aquilo tudo que me permitiram no evento.
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