Após certo dia serem felizes no Paraíso, daí vem o desafio em forma de uma serpente astuciosa, que oferece a Eva o pomo da desobediência. A isso quem haveria de defrontar o ignoto senão através do fruto da Árvore do Conhecimento? Aos moldes doutras aventuras, ver-se-iam a braços com a ilusão. Diante da dualidade, a quem obedecer? Uns, talvez, decidissem pela outra face da liberdade. Outros, porém, não o fizeram, seduzidos. Enquanto isto, aquele algoz mal versado, a cumprir ao seu jeito o papel de sedutor de toda uma raça, defrontaria o Bem nos seus primórdios, cena eterna, e os faria primatas a subir o cadafalso dos ímpios, senhores de si próprios, no entanto astutos buscadores das aventuras errantes.
Nisto, na vastidão dos primeiros céus, a História ali principia sob nuvens do mistério dos novos seres, vistos agora aos olhos da Perfeição que os criara. Matrizes da primeira chance de obedecer, ou não, acendem às luzes de palco imenso às margens desse rio caudaloso do Tempo.
Conquanto livres fossem desde então, aquele sórdido personagem vasculharia no íntimo deles o que lhes restara de aceitar, vez que, assim, perderiam os páramos celestes e tornar-se-iam meros atores do que restava de lhes acontecer. Vulneráveis ao desejo, ela daria à luz perante as dores, e ele colheria o sustento sob o suor do rosto. A serpente, à sua vez, arrastar-se-ia no pó, a juízo do que fizera.
Daquela hora adiante, o senso da busca doutra liberdade que fosse, em meio à imperfeição de querer o prazer imediato e superar o Autor de Tudo, inclusive no desalento de admitir ser vencido. Ao preço do apetite, perder-se-iam a saborear do fruto da Árvore da Imortalidade, único poder que agora existe do quanto aconteceu nos primórdios.
(Ilustração: https://vocacaodejesus.com/meditacao/voce-acredita-que-adao-e-eva-existiram/)
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