São tantos esses momentos, dos quais só alguns inesquecíveis. Na alma da gente, bem ali, pulsa vivo o coração; porém, numas quantas intensidades, o que determina continuar, o que prevalece no decorrer da Eternidade. É o som vago dessas harmonias, que cresce no mais íntimo das criaturas e ecoa ao longe, pelo Universo inteiro. Lembranças de razões marcantes que permaneceram, das vivências, das emoções, que determinaram a sequência natural da sobrevivência do ser; ânsias, lamentos e sonhos que permanecem guardados desde sempre, determinações que conduziram nossos passos rumo da felicidade.
Inúmeras vezes, elas regressam na forma de recordações;
tristes ou felizes; sobrenadando por dentro das pessoas quais restos dos
naufrágios antigos que teremos sido. Chegam, batem os porões da percepção e
pedem que sejam ouvidas, espécies animadas que persistem e crescem à medida dos
próprios desejos, pois adquirem vida íntima. Nem sei de que mundos regressam,
tão incólumes e faceiras. Sei, sim, que avançam e dominam o território da presença
nas pessoas. Gritam, revivem, sustentam, onde estejamos, a criar espaços intermináveis
entre hoje e nunca mais, longas pontes do Infinito ao Desconhecido.
Preenchem espaços no pensamento, nos bastidores dos dias, até
dominar as asas da imaginação e mergulhar o firmamento da memória; vivemos,
assim, submissos dessas visagens do passado que nos dominam e crescem, senhoras
feiticeiras de reinos encantados, restos de filmes de antigamente.
Do pouco que ora esquecemos do poder dessas influências
misteriosas, disso a gente alimenta vorazmente o que restava de significarmos.
Trabalho inevitável, urgente, das sobras
desses fantasmas, daquilo reconstruímos o ser que ora somos. Arquitetamos fugir
sobre o abismo das horas mortas, e tricotamos tecidos de esperança, a revelar faces
novas. Alienígenas de nós mesmos, batemos muitas portas à procura do que a
gente seja de verdade. Fervilhamos pântanos, sobrevoamos hemisférios, experimentamos
existências, enquanto a Paz crepita em nossas entranhas, no poder maior da
Consciência eterna que nos aguarda logo adiante.
(Ilustração: Reprodução).
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