Idos da segunda metade dos anos 70, de quando regressei ao Cariri depois de sete anos em Salvador, e conheci, no Sítio Venha Ver, na Chapada do Araripe, um personagem típico daquelas bandas, Reis, qual chamavam o rei da Serra. Conversamos um tanto. Busquei conhecer detalhes de sua história. Pessoa de natureza alegre, meio fora de tempo, solitário e esquecido naquelas brenhas. Vivia nas matas. Segundo falou, se alimentava do que achasse (- De calango pra cima tudo se come, dizia). Tomava banho só nas estações chuvosas, épocas raras nessas bandas. Usava chapéu de couro curto e remoído pelos tempos; portava uma velha espingarda de soca e um bornal gasto pendurado de banda e trajes surrados, antigos e encardidos pelo uso.
Naquela casa de morador onde me achava e onde ele passava
sem compromissos em horas imprevistas, as pessoas me contaram que havia décadas,
quando a esposa de Reis perecerá de um parto, ele tresvaliou e resolveu subir a
serra e nela se enfronhar até aquelas datas. Antes vivera em Crato, pessoa
simples, trabalhador braçal, e não resistira ao trágico acontecido da família.
Abandonara a cidade desde então.
Com ele me avistei mais uma ou duas vezes, nas andanças ocasionais.
Gostava de fumo brabo e outros agrados. Uma figura exótica por demais. Vivia,
pois, livre pelos eitos da floresta tal nunca estivera noutro lugar. Isolado,
esquecido, mera ficção da sociedade lá debaixo.
Nem sei bem porque que ontem me veio às lembranças aquela fase de minha vida quando vivera essas experiências distantes, a buscar isolamentos e reflexões à margem, e quisera descobrir fórmulas outras que não fossem meras repetições dos tantos embates daqui de fora da floresta. Dias adiante tivera notícias de Reis, e ninguém mais soube dizer onde andava, mas que sumira definitivamente nalgumas novas matas desses encantos da Natureza.
(Ilustração: Serra do Araripe (repodução).
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