Assim quais mudassem de nome e personalidade a todo novo momento, ontem teremos sido o que jamais voltaremos a ser; agora porém já fomos e o seremos novamente... Outros eus que, deste modo, vêm e vão à medida que o tempo troca suas fichas nas teclas de segundo, detrás das cortinas dos dias, e nós aqui a viver essas mudanças feitos nós mesmos no passado e desfeitos agora, contudo cheios de confiança de nunca mais ser iguais ao que ontem fomos, porquanto sabemos dessa capacidade infinita de nos desfazer pela dança incontrolável dos dias, sombras de nós próprios que algures, nalgum inevitável, Alguém ir sempre conduzir.
São essas as tais linhas do tempo de que falam pesquisadores da personalidade. Variações intermináveis de valores, humores, sonhos, ideias, desejos, intenções, interesses e práticas, que andam à nossa frente feitos mentores desses nós, invés de nós sermos senhores delas. Tais barcos voltados a ler o passado, isto na velocidade estonteante do viver, marcamos no tempo nossas metas imaginárias, e tangemos essas criaturas do ser que somos e fomos, à busca do destino através das consciências, elas que oferecem meios parciais de acompanhar o processo, entretanto submetidos ao mar dos acontecimentos indomáveis. Às vezes, lampejos e lembranças de haver passado ali naqueles lugares e vivido aquelas situações, o que deixa entrever as possibilidades de lá um dia descobrir de vez as linhas que conduzem as cenas, ainda que de forma hoje nebulosa e, desde então, dominar o eterno e conter o fugidio.
Quando pudermos, pois, chegar a tanto, o processo da compreensão, a lucidez que impera nos bastidores daquelas memórias, seremos parceiros do Desconhecido e senhores desses nós que hoje apenas parecemos ser e que deslizam assustados nas correntezas do Universo, sujeitos de tremores e temores, pequenos seres que, trazidos a dia sem maiores explicações, contudo dependem absolutos da própria evolução e crescimento. Nalguns menos, noutros mais claros, os instantes de percepção dormem, todavia, restritos a fatores climáticos, históricos, sociais, culturais e afins, que gradualmente, pausadamente, invadem o ser de aonde iremos sobreviver.
Viajantes do tempo, átomos da Eternidade e das luzes nas consciências, singramos a trilha dos destinos feitos ramos da árvore do firmamento, e sofremos, e sorrimos, em sonhos ou de olhos abertos, depositários dos segredos demonstrados nas estrelas e desvendados no abismo sagrado das nossas frágeis mãos.
(Ilustração: http://despertarcoletivo.com/geometria-sagrada-o-significado-da-espiral).