terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Os pardais da Praça da Sé

Esse logradouro reflete bem a vida em Crato, isto a considerar as dimensões da praça, a arborização privilegiada e as tradições de que é símbolo desde seus primeiros tempos. Quando os colonizadores se resolveram pelas margens do Rio Grangeiro invés das do Riacho do Miranda, onde haviam instalado a missão original quando aqui chegavam, viram nesse novo sítio o ponto ideal para desenvolver o aldeamento e fixar as raízes europeias no Cariri. 

As extensões da Praça da Sé oferecem meios suficientes às grandes solenidades, aos eventos maiores do povo e das instituições. Em sua volta os proprietários construíram belas casas residenciais, a Casa da Câmara, a Cadeia Pública, grupo escolar e a Sé Catedral, destacando aos católicos o palco dos seus louvores por vezes entrecortados de acontecidos históricos, tais a declaração da primeira república nacional, lá nos idos de 03 de maio de 1817, cúmulos da Revolução Pernambucana de infaustas lembranças, em que sucumbiria o herói maior Tristão Araripe.

Nesse respiradouro típico da população do lugar eu estudei na década de 60, no Ginásio São Pio X, prédio que ora sedia a Irmandade de São Vicente de Paulo, lado nascente; via dali o imenso quadro da matriz ainda de chão batido, espaço ideal às partidas de futebol dos desocupados nos intervalos do almoço à sombra dos oitis em crescimento. 

Mais adiante, em face de nela passarem as estudantes do Colégio Santa Teresa ao término das aulas, no meio-dia apareciam também os alunos do Colégio Diocesano e ocupavam os bancos e as imediações, no intuito de apreciar a beleza da juventude em desfile, num instante de descontração e enlevo. 

Já na década de 70, aos finais do dia, com as árvores de copas frondosas o ano inteiro, nelas se instalavam os pardais, nuvens e nuvens deles, a chilrear em uníssono melodia ímpar e festiva, clima inigualável de propiciar os instantes fervorosos da Ave-Maria, secundados ao ritmo do metal dos sinos e dos cânticos saídos da Catedral defronte.  Cheios de emoção, presenciávamos absortos a religiosidade daquelas ocasiões, talvez enlevados no doce mistério das luzes espirituais da natureza viva. 

Um comentário:

  1. Praça da sé ... uma mistura de beleza e saudade... o. Seu texto também remonta um pouco de história que eu não conhecia. Mas quem pelo Cato passou, morou ainda que por pouco tempo não tem como não lembrar e sentir saudades da Praca da Se e do Crato. O Crato é uma cidade tão incrível, acolhedora, um nível cultural e educativo excelente, belos clubes de Serra, clima ameno e acolhedor, Crato é tão bom que Luís Gonzaga se reportou como “Cratnho de Açúcar”. Um carinhoso abraço ao amigo escrito Emerson Monteiro.

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