domingo, 28 de outubro de 2018

O silêncio do tempo

Das grandes ansiedades humanas, por demais enigmáticas, uma delas é desvendar o futuro. Ao movimento constante de esferas harmoniosas, o tempo transcorre inevitavelmente força descomunal, silenciosa, energia de proporções inigualáveis, e pulsa em tudo, desde as estações do ano ao canto melodioso dos pássaros nas matas. Por vezes em síncopes inevitáveis, surpreende expectativas e acontecimentos, e reverte histórias, condições e valores sólidos. O Tempo, este senhor da Razão, ente respeitado de qualquer cultura, deus poderoso, pastor e dono das prendas e marés, que pare e devora as próprias crias; Cronos, dos gregos; o Sol, a percorrer os céus; Shiva, dos hindus.

Enquanto que recebe e devolve as ações dos indivíduos, exerce seu papel principal no reino da Criação, mecanismo de ação e reação, da Justiça e da Fortuna. Assim, espectadores privilegiados das maquinações do Tempo, dotados de visão e percepção, os humanos tão só transitam diante dos antigos passos, tais atores secundários e obedientes, parceiros desse pai que, da calma aparente dos bastidores, rege dali o tropel cadenciado das horas.

Nisso, resta atender aos ditames do mecanismo ao qual pertencemos, figuras da paisagem, mesmo dotados do furor das imaginações e do desejo, na febre dos frágeis domínios. Poucas interpretações chegam a compreender verdadeiramente o mistério desse autor maravilhoso que a tudo contém. Saberes muitos e os instintos da investigação olham de lado sua presença que significa o propulsor das existências e dos seres. Apenas um solene e suave deslizar de eras, sujeitos e objetos, perpassa o cenário numa espécie de luz que alumia e apaga, a fluir intermitente nas frações, durante o que anotamos  qualidades do que ele deixa existir a cada momento.  

Tempo de que somos parcela e nem disso percebemos com uma total clareza, dele dependentes e repasto; escravos e senhores; moléculas e fragmentos. Luz das almas, pois, o Tempo, de que somos visão e audição, na paz do silêncio contundente e da condição sob que vemo-nos submetidos bem de longe, a ele reverenciamos através das nuvens que cumprem os desígnios da sorte nos painéis do Infinito. 

Um comentário:

  1. O silêncio do tempo , este senhor da razão, caminham juntos e nem sempre nos damos conta da importância e dependência um do outro. Nem sempre fácil convivermos e aceitarmos a importância e do silêncio em noss vida. Tão importante quanto o silêncio é a capacidade de convivermos com a sabedoria do silêncio e do tempo. A nossa vida passa por estes dois parâmetros, o tempo decorre independente do que passou, do que estamos vivendo, e do que viveremos. Disso tudo o que também é importanté é sabedoria e a consciência de que no tic tac solitário do relógio o tempo passa silenciosamente para todos. Parabéns Emerson Monteiro pelos seus textos sempre ricos decsabedoria. Um carinhoso abraço. .

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