Década de 70. Durante alguns meses eu funcionaria como assessor do inspetor Mário Jofre, da CACEX do Banco nos seus trabalhos em Salvador, auxiliando nos relatórios que ele encaminhava a Brasília. Aos intervalos, íamos ao 9.º andar, onde fazíamos as refeições. Ele, um mineiro que, inclusive, fora vereador em Belo Horizonte; encetamos bons papos nos assuntos mais diversos.
Dessa vez, sentados à mesa, após fazermos os pedidos, aguardávamos ser servidos, quando veio até nós um colega da agência e conversamos sobre signos astrológicos, de que tratáramos noutra ocasião. E o inspetor ouviu toda conversa. Saíra o interlocutor exato quando chegavam nossos pedidos; Mário Jofre se volta em minha direção e observa:
- Sim, senhor, seu menino. Então o senhor conhece os signos... Pois diga lá qual é o meu signo.
Colhido de surpresa, busquei terra nos pés, sem querer decepcionar o meu superior, nisso observando que o prato que lhe viera servido continha pura carne, um enorme bife sangrado. Daí pelos indícios, cogitei:
- Bom, inspetor, pelo visto do senhor gostar tanto de carne meio crua, o senhor dever ser Leão.
Com a resposta, o homem se entusiasmou e falou até mais alto, a ser ouvido também nas outras mesas; o restaurante estava quase lotado; elogiava o meu desempenho. Foi quando vinha chegando no almoço um dos gerentes adjuntos da agência, Brito, carioca autoritário, cara fechada, que, naquela época, recebera a missão de botar ordem na casa em relação ao pessoal, respeitado só o tanto entre os funcionários. Ao ouvir do inspetor que eu conhecia de signos, que acabara de acertar o seu signo, e outros elogios, na mesma hora, sisudo, Brito olha e consulta:
- Pois diga qual o meu signo?
Que houvesse ainda mais terra debaixo dos pés; corri a vista pela memória; recorri aos céus; e sem demorar sustentei:
- Sim, deve ser Gêmeos ou Balança. (Nunca passara por isso, nem nas brincadeiras de salão, e duma vez enfrentava logo duas paradas frontais). Dava por perdido, fizera apenas de mera apelação. Quando, na hora, o administrador olhou de cara assustada e considerou:
- Por que Balança? Por que Balança? – Acertara outra vez o palpite.
- É que o senhor é pessoa ponderada, equilibrada... – Com isto, tratei de terminara de comer, e me despedir dos dois, avisando que havia compromisso naquele momento, saindo fora antes de aparecer novo desafio astrológico. Graças a Deus minha experiência no assunto fora bem sucedida.
Fico imaginando seu rosto e gestos para sair do aperto rsrs, logo você, sempre ponderado e acertivo em suas colocações. E quando se trata de assuntos abordados em nosso ambiente de trabalho, sempre ficando mais contidos em nossas atitudes, Muito boa a sua narrativa, temos a sensação de vê a cena. Parabéns. Um abraço escritor Emerson Monteiro.
ResponderExcluirExcelente forma de relatar um fato simples mas que se transforma num texto rico. Um abraço Emerson Monteiro.
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