domingo, 2 de dezembro de 2018

Doidos atuais

Tal qual quem viaja numa estrada desconhecida altas horas, quase sem visão nem movimento, e acompanha os sinais rodoviários, quando, de supetão, avista nas placas da margem uma contendo enorme interrogação amarela em fundo preto; assim é o futuro, a vida. Que haverá, que mudará, que trazem as próximas horas ao silêncio das estradas apenas rompido pelo croaxar intermitente dos pneus no asfalto e sons da ventania de encontro aos vidros e flandagem do veículo.

Assim tem sido. Assim será por longos anos. Há pouco, presente em momentos noturnos das baladas desta época, observava os doidos de hoje e os comparava com os doidos de antigamente. Quanto parecem, muito, muito. Cabelos longos, barbados, olhos assustados, fugindo de outros olhos quais desconfiassem de serem vigiados, mesmas neuras dos guerreiros arcaicos daquelas outras aventuras. Acossados pela sina das noites, crianças vagam soltas nas ondas do mar das ruas, vadias sombras que as levam consigo aonde forem, nos tetos invisíveis do destino. 

Velhas saudades, aventuras errantes; o inesperado à busca de tudo que restara nos cestos largados fora na porta das lojas, dos bares, becos escuros, solitários.

De novo só o apego de revelar a paz nas telas do instante; tocatas da valsa das décadas na alma da gente; fomes de amor; sede de sobreviver a todo custo. Pessoas-improviso, cigarros em punho, garrafas dançando entre as mãos impacientes; ansiedades mil deslizando nas praças e calçadas; atores de histórias impossíveis, porém idênticas à dos parceiros que o tempo levara e caprichosamente traz de volta repetidas vezes nas veredas e nos filmes. Pistas molhadas, escorregadias, parceiros próximos, cúmplices nas jornadas e leitores dos sinais à beira do abismo, quando de súbito aquela placa de interrogação do que virá logo ali adiante. Os ídolos, os ícones, emblemas que balançam nas nuvens de esperança guardadas a sete capas nos escombros deste chão... 

São ritmos recentes das velhas músicas, ânsias de liberdade tornadas aos pedaços, senhoras de sonhos, e amores, e desejos. Luzes que se apagam. Luzes que se acendem.

(Ilustração: Hippies).

3 comentários:

  1. A busca de satisfação imediata através dos que a sociedade disponibiliza, como as bebidas, chamadas drogas lícitas, drogas propriamente de varios tipos , levam as pessoas numa fulga desesperada , buscar refúgio nestes meios como forma de suprir as carências amorosas, decepções pela falta de perspectivas, principalmente a geração “Z” , na busca de si mesmo, fatos que terapia tradicional não conseguiu suprir. Se estão certos ou errados não nos cabe julgar, cada um sabe o drama que vive e as razões que os levam a ser os “ Os Doidos Atuais”.

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  2. Dois de hoje estão em toda parte. Nesta vida cheia de frustracoes, desinluzoes, amores sonhados e não vividos, como não ter doidos. Vida sem perspectivas, carência d3 atenção e de afeto, tudo isto leva as pessoas a se encaichar neste perfil. Um carinhoso abraço ao amigo escrito Emerson Monteiro .⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️

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