quinta-feira, 29 de novembro de 2018

As cigarras da serra

Sim, esse poder consistente que há na música e chega bem longe por entre as crateras das almas nas dimensões da tarde; cenas audíveis de horas distantes, infinitas, remotas, e inquietas eras que circulam à volta do sabor dos silvos de cigarras lá perdidas entre as árvores, que acalmam os deuses na amplidão e envolvem o oceano das nuvens arrancadas do ser que nós somos fieis testemunhas. Matrizes das filosofias, dos poemas, das músicas, zona neutra ali permanece escondida, olhos, ouvidos e sonhos. Ruídos que escorrem nas veias do instante até pulsar no coração do silêncio.

Nisso, imensa vontade pede conhecer o segredo que circula as consciências mortais na busca de Si, salutar esperança de permanecer diante das ruínas  deixadas pelo Tempo, senhor das eras. Portos distantes, pois, deste mar das existências, sons invadem os vazios de finais do dia. Avançam céleres rumo a desconhecidos, ocasião das noites inesgotáveis, fontes grandiosas do mistério de que tanto carecemos.

O som, os sonhos, sede do viver das criaturas gritam de perfeição no seio do Inconsciente. Nós, seres imprudentes e ambiciosas criaturas de dominar o Destino, heróis dos próprios dentes, donatários da Promessa, apenas deslizamos silhuetas nas paredes sombrias do escuro, pulsações de fantasmas que somem sorrateiros.

Com elas regressa o calor, sinal de novas chuvas neste verão intenso. Linguagem dos que significam a história secreta do Sol, sublimes vozes, falas e religiosidade compõem o presente nas cigarras que invisíveis ritmam o século das dores e das angústias, certezas ainda implumes, revelações do quanto avançar na face do perigo e afagar os desejos da humana felicidade. Amar, amar além da sobrevivência e do viver. As falas dos sentimentos soltas, assim, fibras resistentes da solidão e respondem ao cicio das cigarras, enquanto sorriem feitas almas penadas vagando pelos céus.

2 comentários:

  1. A vida é assim, cíclica. Como no canto cigarra que canta na espera da chuva, assim nós humanos, nas mais diferentes fases da vida passamos por momentos de cigarras e de formigas. Quem já não passou por isso. Se foi feliz nos tempos de cigarra, se valeu a pena abrir mão de outros sonhos, ou não. Mas nas estações da vida, quase sempre o melhor tempo foi aquele em que se podia sentar desprenteciosamente embaixo de uma grande árvore e ouvir o estridente canto da cigarra, sem em mais nada pensar , fechando os olhos e divagar nos mais diferentes sonhos.

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  2. Muito bom ler os seus textos, obrigada por nos presentear com seus textos. Um carinhoso abraço amigo Emerson Monteiro .

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