Autor: Heitor Feitosa Macêdo.
Emerson, com todo respeito, sou obrigado a fazer alguns comentários, não por soberba, nem por pavonice, mas pelo simples compromisso com a ciência histórica e com tudo o que se aproxime com a verdade nesta mesma seara.
Conheço o produto de sua pena e de seu punho, que, aliás, é de muito boa qualidade, e, por conseguinte, como é natural aos bons escritos, espalha-se rápido, alcançando longas distâncias e propagando-se no tempo. É uma grande responsabilidade ser um escritor do seu calibre.
Então, sobre a Guerra entre Montes e Feitosas, é inevitável a paixão pelo tema, principalmente para gente como nós, descendentes diretos desses gladiadores do sertão. Porém, este assunto vem sendo tratado de forma inexata, principalmente na internet, onde os fatos são distorcidos e oferecidos ao público em dose cavalar, contaminando as massas com foros de verdade.
Sei que a verdade é relativa, e alcançá-la seria quase impossível, mas aproximar-se dela pode ser uma tarefa executável, principalmente com o uso do método científico, com investigações escafandristas.
Ultimamente, velhos fatos têm ganhado novas narrativas, sendo a história recontada a cada gole dado diretamente na fonte. A exatidão do documento e a capacidade da crônica em preencher hiatos, quando cimentados pela interpretação histórica, possuem o condão de gerar apreciável verossimilhança, promovendo uma maior aproximação da realidade.
O seu belo e bem escrito texto, sobre o referido conflito clânico é uma obra de arte. Mas, data vênia, preciso fazer algumas ressalvas.
1- Os Feitosa que chegaram ao Ceará eram nascidos no Brasil, e o pai destes era português;
2- Os Montes eram de origem espanhola;
3- O conflito entre as duas famílias não se deu na primeira metade do século XVII, mas na primeira metade do século XVIII;
4- Para a maioria, os Feitosa eram Pernambucanos, vindos de Serinhaém, da Fazenda Currais de Serinhaém. Alguns afirmam que eram sergipanos, da Fazenda do Buraco. Outros acreditam que eram Alagoanos, de Penedo;
5- O primeiro patriarca dos Montes em terra cearense foi Jorge de Montes Bocarro e não o Coronel Francisco de Montes (Famílias Cearenses, p. 279);
6- João de Montes Bocarro, pai do Coronel Francisco de Montes Silva, era natural de Penedo/AL (Idem);
7- As primeiras sesmarias dos Feitosa foram dadas entre o Icó, Iguatú e os Cariris Novos;
8- As causas da contenda entre as famílias se deram pelas terras do Cariri, pelo menos no primeiro instante da luta;
9- A luta armada começou depois de 1716, com a morte de Manoel Rodrigues Airosa, cessando em 1719 agosto de 1724, quando ocorreu a maior batalha, resultando muitos mortos da parte dos Montes;
10- O Capitão-mor Manoel Francês foi, na verdade, subornado pelos Montes;
11- O Bacharel José Mendes Machado (1º juiz do Ceará e Ouvidor-geral), foi obrigado a buscar aliados contra os Montes, pois estes tinham a intenção de rasgar os processos elaborados pelo ouvidor, bem como assassiná-lo. Assim, há época, os Feitosa aram a mais forte opção;
12- A Câmara de Aquiraz era dominada pelos Montes, como, por exemplo, o Licenciado Domingos Ribeiro, casado com uma integrante da família Montes;
13- A guerra não teve fim no ano de 1725, com as ameaças do Capitão-mor, mas muitos anos depois, entre o final de 1730 e início de 1740;
14- Os Montes eram muito ricos, e seus bens não se dilapidaram como dizem os cronistas. O que ocorreu foi a dissolução do clã entre outras famílias, pois, posso provar que, ainda hoje, as antigas elites no Cariri têm algum parentesco com os Montes.
Emerson, desculpe-me se eu estiver sendo ofensivo, pois esta não é a minha intenção. Meu único compromisso é com a pesquisa. E para provar tudo o que afirmei, estou te enviando um texto, no qual transcrevo o mais antigo relato sobre a batalha, narrado por testemunhas oculares.
No mais, um forte abraço, com demasiada admiração.
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