Algumas semanas passadas na solução dos compromissos que o levaram à Capital, Gustavo regressa ao município, pronto a retomar as atividades executivas.
Nesse meio tempo, contudo, grupo político adversário convencera Zé Borrego de não mais lhe devolver o mandato, coisas de quando sucessões municipais ocorriam na ponta do punhal e na boca do cravinote, de tão precário modo que o peso da força prevalecia em contrário aos ditames democráticos dos tempos adiante, dominância da rebeldia oportunista.
O líder Augusto chegara à noite. Ouviu de aliados a confirmação dos boatos que corriam soltos no lugar. O coronel Gustavo seria, com isso, vítima das demarches praticadas na sua ausência.
Dia seguinte, às primeiras horas da manhã, se dirige ao paço, sentido fixo nos afazeres do cargo que lhe cabia.
De longe, visualiza bem no curso da porta principal da Prefeitura a pessoa de Borrego, corpo franzino, calvo, olhos fundos, sagaz e impaciente no ânimo de manter a fúria golpista que desenvolvera.
Atitude própria de quem ignorava o motivo dos acontecimentos imprevistos, Gustavo chega ao prédio na intenção de reaver o posto que confiara às mãos infiéis do parente.
Imbuído no propósito de manter a sublevação, Zé Borrego não arredara os pés e, menos ainda, transparecia qualquer satisfação com o retorno de Gustavo, lhe bloqueando a passagem. Nessa hora, face a face, nos desejos do poder, obstinado, manifestou aos quatro ventos da praça sua intenção avassaladora:
- Gustavo, para entrar aqui você terá que passar por cima do meu cadáver – isso falado num tom duro, deixando claro que pretendia sustentar até o fim a manobra e possíveis consequências.
Ciente, pois, da teimosa disposição de quem antes dele merecera confiança, Gustavo Augusto esqueceu alternativas. Passo rápido, determinado, empurrando nos peitos, afrontou o que visse pela frente, de jeito que readquiriu no muque o domínio da ação e penetrou no recinto, após lançar ao solo, qual traste inútil, o afogueado usurpador, asseverando abusado entre os dentes:
- Sai do meio, Zé Borrego! Que tu nem cadáver possui – e de novo se investiu no cargo de Prefeito da localidade, restabelecido às condições anteriores.
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