quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Lembranças, só as agradáveis - Por: Emerson Monteiro

Se se pode escolher, por que fixar pensamentos magoados das horas sofridas? Bom de viver, que seja bom de lembrar, dever de sabedoria. Saudade a gente alimenta, sim, mas das situações felizes; das outras, nem de longe serve reviver. Dalgumas normas das boas práticas, eis esta tão valiosa quanto a alegria trazida de volta nas mudanças de tempo. A bem dizer, vezes acontecem virem os lances desagradáveis à tela do juízo, contudo largo de novo daonde intrusos chegaram; decisão fechada, prego batido, ponta virada. Tais situações empedernidas moram, sei, escondidas na casa das recordações e espreitam a paciência até, numa surpresa quem sabe vingativa, metem na cara das esquinas os momentos que querem dominar o pedaço e ferroar o silêncio de forma contrária. Fora com eles. Afinal, a depender de nós, ninguém ouve música feia, anda em lugares pegajosos, encontra pessoas agressivas e neuróticas por querer de livre trato. Desse mesmo jeito é com as lembranças, fiapos de memória que restaram grudados na sola dos sentimentos e demonstram o alento das bondades desta vida. Quais álbuns de fotografia do passado, ali fixaram residência. Passeiam na alma, filmes da história completa do indivíduo. Cheiram. Têm sabor. Música. Falas. Movimento. Mistura de felicidade revista, que insiste viver sempre nos galpões das ausências, participa dessa matéria espiritual que nós somos e fortalecem as consequências disso que um dia existiu dentro daqueles turnos dos outros eus já apagados, que dormiram, de uma hora a outra ganham corpo nas paredes que deslizam pela janela do trem da realidade atual. Hoje, nessa era de tantos meios de preservação das reminiscências, instrumentos magnéticos de continuação da raça, músicas, livros e filmes falam com insistência das flores acesas nos quadrantes das narrações de si. As pessoas prosseguem junto de quem convivemos, os beijos, os abraços, as promessas de amor eterno, passeios, festas, paisagens totais da continuação das heranças nos seres. E lembrar o que seja de melhor alimenta o perfume da esperança nos corações imortais da resistência.

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