domingo, 25 de junho de 2023

O silêncio e a solidão


Quer digam serem as palavras raiz da compreensão, o silêncio que elas dissolvem é a força do querer. Tais rios e rios de lágrimas, por vezes revoltas, no entanto falam bem alto de tocar as fibras do coração. Nesse mar de respostas imprecisas, ali desenvolvem o entendimento e abrem espaço ao mergulho às profundezas escuras. Permitem fazer face aos mistérios terríveis e transportam das montanhas a ignorância. Suportam as dores do cotidiano. Abrem o leque da percepção ao infinito de todos nós. O silêncio ou a solidão viram o absoluto do som de uma única mão ao bater palmas. A música do silêncio, que grita aos quatro ventos o sentido das histórias deste mundo, diante das fronteiras desse palácio de solidão. Repercutem as vozes e ampliam na alma o senso da realidade de um modo superior a tudo quanto existe. Foram milhares de séculos até quando as luzes clarearam o abismo da criatura humana. Passadas todas as aparências, epopeias e lutas, certo tempo o silêncio preencheu as impurezas dos tantos raciocínios e inundou de paz o firmamento. Dotados de toda e qualquer culpa, no entanto a profundidade dos sóis apenas indica a porta da transparência. A tudo isso caberá, todavia, reconhecer o quanto se abriu ao equilíbrio original e permite, afinal, a plena iluminação.

As palavras, que são incontáveis, chegam gradualmente e impõem o objetivo dos pensamentos, sem, contudo, trazer de vez a luz real do sentimento. Nisso, no instinto da procura, só assim virá o transe da percepção.

Pois é isto, de nada importa a multidão enfurecida de prazeres e poder, conquanto a história há de continuar eternamente. As mãos dos destinos imperam, e pronto. Grandezas menores e frágeis alimentam a ilusão que rompe o escarcéu dos dias e desmancham as derradeiras sombras das madrugadas. Lavas de monótonas gotas caem insistentes no íntimo dos abandonos e tão só replicam essa vontade de controlar o incontrolável durante as chamas da fogueira que alumia o silêncio das horas eternas.

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