sábado, 3 de junho de 2023

Ilusões de um messias indeciso


Era uma manhã de sol aberto, quando, na sombra de uma árvore, lera o livro de Richard Bach cujo título encima esse texto. Isso há duas ou três décadas, antes de viajar e demorar pelo mundo afora. Guardara, no entanto, as emoções que a história lhe passara. Espécie de identificação com tudo aquilo que vivenciara da ficção, sinais permaneceram consigo tempos e tempos, a ponto de agora, nalgum lugar, à mesma hora daquelas leituras, retornarem nas mesmas proporções  que, ao que parece, ficaram fazendo parte dos espaços de memória. Algo assim qual razões principais de interpretar ao pé da letra o que lera.

Dalgumas obras têm sido de tal modo, entranharem nas fibras internas da mente e quererem, vez em quando, retornar e ditar as regras da compreensão em tantos outros momentos vida adiante. Às vezes, versos de canções, de poemas, frases inteiras de romances, contos, novelas, filmes... Esgotadas as possibilidades desses enredos, ficam cenas de rua, de aulas, viagens, sonhos... Uma sala de projeção como que se tornou a tela das imagens do juízo, e, a todo instante, novas cargas e voltagens regressam faceiras, espécies de seres vivos da criação interior da própria pessoa, a ponto de virarem questionamentos sem causa de quem determina ou ser determinado pelos encontros vocálicos dessas aparições inesperadas.

Ele, desde então, permanece neutro face ao todo das imagens sucessivas que mais parecem laços de destinos vagos originários desse vazio dos dias. Grudaram na sede da consciência e trabalham incansavelmente pelo domínio do território antes coordenado só por si.

E o título do livro de Richard Bach ganhou margem de ente dominante, quase peça chave do novo enredo, a contar não do personagem do autor, porém de personagem distinto que noutro fez morada, a impor o desejo contínuo de querer permanecer vivo e contar aquela senão outra e outras histórias insistentes nos céus de todas as criaturas e noutros universos. Força descomunal de vontade incontida, se sobreviver nas existências daquele e doutros leitores, tanto agora quanto para sempre.

(Ilustração: Reprodução (https://paragrafo.org/artigos/recomendados/64-a-ilusao-da-certeza).

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