De comum, existe essa mania de resistência aos sentimentos, porquanto se vive numa sociedade mecanicista e quem for podre que se quebre. E nisso vão passando ligeiras as chances de conhecer aspectos outros da personalidade, ali onde habitam os seres da floresta da alma, quase sempre deixados em segundo plano, só trazidos nos instantes de fraqueza e desespero, na solidão dos tortos. Porém bem outra compreensão persiste aberta, isto nos contos, na arte, nos romances proibidos, nas noites escondidas dos mistérios.
Criou-se o tal conceito de que sentir é debilidade; que
saudade significa perdas e derrota; que poesia representa falta do que fazer. E
nisso imperam os fortes, os gigantes das montanhas, os grandes, poderosos.
Chorar significa danos morais, pouca iniciativa e nenhuma verdade neste mundo
sórdido e cruel. Conquanto as dores compõem o quadro da história da raça,
esconder pede atenção em defesa do status dos impérios. Vencer, vencer, vencer,
eis a meta suprema das visões.
Nesse diapasão, padecem as multidões atiradas à lama das
injustiças quais seres insignificantes face o potencial soberano das classes
que dominam. Detêm o furor sem tréguas e quem for podre que se quebre. Daí vêm
os filmes de guerra, o valor dos impávidos, das grandes corporações em
movimento; dos vitoriosos no trono das nações. Esquecidos, pois, aos museus de
antigamente, relíquias recuperadas nas ruínas e nos guetos, ressurgem os poucos
que exerceram o papel de sentir no âmago as angústias da solidão e da fúria dos
bárbaros.
Vezes sem conta vem sendo assim, dos boêmios nascem as
canções do exílio, das telas dos ditos gênios resta a paisagem da destruição
do que sumiu nas catástrofes das civilizações. Eles, os filósofos, os místicos,
santos, profetas, preenchem o sol de antigamente, de quando havia amor e paz
nos sonhos dos humanos. Tudo a crédito dos sentimentos, razão menor das
existências. E permanecem os valores arcaicos das outras possibilidades até então
quase nunca exercitadas pelos habitantes das estrelas que vivem neste chão de
pedras.
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