Nesse mundo, quando vier a noite, livre, lerei meu caminho nos astros. Saint-Exupéry
As tantas horas que vagam na escuridão das noites, bem ali
existe a força de tudo quanto há, guardada a sete chaves. Olhos voltados a
dentro, passa em silêncio o burburinho das horas esquecidas. Silêncio. O
deslizar suave do vento pelos cabelos da imensidão. Um eco profundo de mundos
sepulcrais permanece suspenso entre nuvens e folhagens. Na sombra da Eternidade,
nesse lugar, persiste só o momento. Lá longe o latido insistente de algum cão
tresmalhado, esquecido talvez no meio das ausências encapuzadas de antes. E,
nisso, um ruído intermitente dos relógios doutros lugares, ao passo dos
mistérios. O que mais persiste, a vontade que nunca de novo cantem os galos
e acordem o dia que virá.
Qual quem abre baús enormes de solidão adormecida, esse
desejo de que a noite se estenda ao longo das horas quero crer fustigue o senso
de muitos. Aguardar em si, de olhos abertos, o cessar da escuridão, esperando o despertar da claridade nas fimbrias da alma, que revela até sempre o instinto
de paz que habita nalguns desvãos das noites. Às vezes, insones, trabalhadores
comprometidos em fazer valer a sorte, acreditam poder ficar um tanto mais no
leito aquecido e sobreviver ao impulso dos dias. Quantos, tantos, sonham permanecer junto dos seus e desfrutar da alegria das manhãs ensolaradas.
Em mergulhos infinitos, no entanto, logo, da
distância, vem o som cavo das palpitações no coração, enquanto escutamos assustados
seus segredos que datam das longas noites largadas aos céus. Músicas de mundos
desconhecidos, assim nascem todas as canções. Dessas melodias atônitas chegam as
trilhas do sentimento, razão das saudades e lembranças vagas do passado que fugiu
sorrateiro pelas
dobras do horizonte.
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