sexta-feira, 16 de junho de 2023

As noites misteriosas


Nesse mundo, quando vier a noite, livre, lerei meu caminho nos astros
. Saint-Exupéry

As tantas horas que vagam na escuridão das noites, bem ali existe a força de tudo quanto há, guardada a sete chaves. Olhos voltados a dentro, passa em silêncio o burburinho das horas esquecidas. Silêncio. O deslizar suave do vento pelos cabelos da imensidão. Um eco profundo de mundos sepulcrais permanece suspenso entre nuvens e folhagens. Na sombra da Eternidade, nesse lugar, persiste só o momento. Lá longe o latido insistente de algum cão tresmalhado, esquecido talvez no meio das ausências encapuzadas de antes. E, nisso, um ruído intermitente dos relógios doutros lugares, ao passo dos mistérios. O que mais persiste, a vontade que nunca de novo cantem os galos e acordem o dia que virá.

Qual quem abre baús enormes de solidão adormecida, esse desejo de que a noite se estenda ao longo das horas quero crer fustigue o senso de muitos. Aguardar em si, de olhos abertos, o cessar da escuridão, esperando o despertar da claridade nas fimbrias da alma, que revela até sempre o instinto de paz que habita nalguns desvãos das noites. Às vezes, insones, trabalhadores comprometidos em fazer valer a sorte, acreditam poder ficar um tanto mais no leito aquecido e sobreviver ao impulso dos dias. Quantos, tantos, sonham permanecer junto dos seus e desfrutar da alegria das manhãs ensolaradas.

Em mergulhos infinitos, no entanto, logo, da distância, vem o som cavo das palpitações no coração, enquanto escutamos assustados seus segredos que datam das longas noites largadas aos céus. Músicas de mundos desconhecidos, assim nascem todas as canções. Dessas melodias atônitas  chegam as trilhas do sentimento, razão das saudades e lembranças vagas do passado que fugiu sorrateiro pelas dobras do horizonte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário