Vivem disso, de buscar esconderijos. Habitantes das sombras, fogem do dia quais quem quisesse desaparecer, mas não obtêm êxito. Percorrem as multidões, no entanto de rosto lavado, desconfiados e matreiros. Correm léguas de serem reconhecidos. Acho que, talvez, precisem sabem o valor de tudo, enfim. Ninguém foge ao destino, diz a língua comum.
Dessa abertura, vale buscar um pouco mais do que iniciamos.
Eles que vivem forasteiros de si por vezes seremos nós próprios e nossas
armaduras enferrujadas. Submetidos aos ressentimentos da sorte insistente,
cheios de escafandros e lesmas, seguem estrada afora, longe de saber a que
veio, o que fazer e aonde se esconder dos afazeres da evolução inevitável.
Atrasam séculos, milênios, porém constrangidos aos golpes da fatalidade dos
dias. Uns, menos apressados, vestem as túnicas dos vaqueiros e mergulham pelas
matas à procura de animais enfurecidos. Outros, mais afoitos, invadem as
plataformas sociais e dançam, e farram à luz do dia. Nós, eles, os transgressores
desse planalto misterioso.
Prudentes nalgumas ocasiões, noutras mostram os dentes,
rasgam tempestades, vendem a alma nos leilões das vaidades, conquanto sabendo
que nunca irão entregar o que não lhes pertence. São sombras, meras visagens
no escuro dos sonhos apressados. Visões de menos avisados, deitam e rolam no placar dos
estádios cheios. Isso dos céus aqui no chão, pedaços do todo universal que
vacilam e crescem nas hostes do impossível. Alimentam medos, culpas, fracassos,
distâncias abandonadas, e descem, sobem, sustentam a tese de existir com a
carne que lhes contém o espectro teimoso.
Passados que foram tantos comboios desta constituição de
astros e estrelas em movimento nos céus, muitos explicam e poucos compreendem, entretanto
aqui vertem o tempo no seu líquido esplendoroso. Ainda que quisessem,
jamais venceriam o trilho implacável do Infinito. Apenas mera vontade, mesmo
assim que insiste vencer a Luz e sustentar as hostes do mistério enquanto dispuser
de força a contrariar o Poder nas horas soltas ao vento.
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