domingo, 4 de junho de 2023

Aonde eles se escondem


Vivem disso, de buscar esconderijos. Habitantes das sombras, fogem do dia quais quem quisesse desaparecer, mas não obtêm êxito. Percorrem as multidões, no entanto de rosto lavado, desconfiados e matreiros. Correm léguas de serem reconhecidos. Acho que, talvez, precisem sabem o valor de tudo, enfim. Ninguém foge ao destino, diz a língua comum.

Dessa abertura, vale buscar um pouco mais do que iniciamos. Eles que vivem forasteiros de si por vezes seremos nós próprios e nossas armaduras enferrujadas. Submetidos aos ressentimentos da sorte insistente, cheios de escafandros e lesmas, seguem estrada afora, longe de saber a que veio, o que fazer e aonde se esconder dos afazeres da evolução inevitável. Atrasam séculos, milênios, porém constrangidos aos golpes da fatalidade dos dias. Uns, menos apressados, vestem as túnicas dos vaqueiros e mergulham pelas matas à procura de animais enfurecidos. Outros, mais afoitos, invadem as plataformas sociais e dançam, e farram à luz do dia. Nós, eles, os transgressores desse planalto misterioso.

Prudentes nalgumas ocasiões, noutras mostram os dentes, rasgam tempestades, vendem a alma nos leilões das vaidades, conquanto sabendo que nunca irão entregar o que não lhes pertence. São sombras, meras visagens no escuro dos sonhos apressados. Visões de menos avisados, deitam e rolam no placar dos estádios cheios. Isso dos céus aqui no chão, pedaços do todo universal que vacilam e crescem nas hostes do impossível. Alimentam medos, culpas, fracassos, distâncias abandonadas, e descem, sobem, sustentam a tese de existir com a carne que lhes contém o espectro teimoso.

Passados que foram tantos comboios desta constituição de astros e estrelas em movimento nos céus, muitos explicam e poucos compreendem, entretanto aqui vertem o tempo no seu líquido esplendoroso. Ainda que quisessem, jamais venceriam o trilho implacável do Infinito. Apenas mera vontade, mesmo assim que insiste vencer a Luz e sustentar as hostes do mistério enquanto dispuser de força a contrariar o Poder nas horas soltas ao vento.

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