quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Encontro consigo mesmo


Quase que esquecemos a gente no decorrer dessa vida. Vagamos soltos nas florestas onde vive o ego e deixamos que as sensações nos conduzam estrada afora. Nalgumas vezes, até que tomamos a iniciativa de parar e enxergar um pouco além. Contudo cheios de dedos, olhos à frente e atrás, numa marcha corrida de fugir da gente própria, quais alimárias doutros rebanhos que não o nosso. Mínimo bichos esquisitos esses tais de seres humanos. Dotados de almas e se pelam de medo das outras almas que apareçam nas noites caladas e escuras. Cabe de tudo na descrição das pessoas; nalgumas horas, ingratas; noutras, indiferentes; lá adiante, circunspectas, dedicadas a causas nobres e ideias nunca imaginadas, e jamais vistas noutras ocasiões que fossem, missionárias de tanta luz que chegam a encandear as multidões, a merecer altares, cerimônias, cultos, reverência, e sendo um semelhante de tantos que agem no sentido contrário no igual período.

Nessa peleja de viver (existir), trombam diariamente com outros e esquecem-se de si. Mourejam pelas bordas e nunca aceitam mergulhar de corpo inteiro nos dramas individuais, na sede constante de contar histórias maravilhosas e dormir no paraíso das ilusões. Bom, mas nem de longe pensam assim, ainda que digam, escrevam, que haja desses próximos, distantes ou dentro das criaturas que pensam. Cantam loas, tiram benditos, sacramentam cerimônias, e olham desconfiados da hora em que haverão de abraçam a condição exorbitante de ser para sempre.

Ao transcorrer dos céus, igualmente, dão de cara com o destino que lhes aguarda de olhos enviesados, sonhando nas películas inimagináveis de esperança de que, certa feita, resolverão silenciar de vez o burburinho das festas profanas e abrir o livro das circunstâncias, e nisso abraçar o que desse jeito haveria de ter sido no correr das gerações.  Pois a tanto estamos nesse barco de procelas e calmarias, atores dos roteiros fantasiosos de alternativas várias, porquanto o itinerário já veio traçado nas tábuas do Destino. Quando, nisso, bela manhã de sol intenso, aceitaremos de tudo a definição do quanto de sonhos nos reserva o Infinito.

(Ilustração: Casa abandonada, reprodução).

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