Mudanças profundas todo momento. Vezes, um pensamento, um passo, e tudo se transforma. Um gesto, uma palavra, uma escolha. Enquanto desliza o tempo, ente por demais inexplicável nos termos dos calendários, onde agem as pessoas e fenômenos da Natureza procedem uma busca sem fim.
Nisso, impera dentro da gente esse instinto de justificar o
afã que leva tudo ao nada num abrir e fechar de olhos. Daí as músicas, os
livros, museus. Pouco importa quem, todos rendem homenagem à pretensa perpetuação
da espécie no decorrer da História.
Um silêncio magistral assim percorre todas as fases do tempo.
Conquanto possamos preencher esse vácuo contínuo que deixa logo adiante, apenas
observamos a pele ressecada dos frutos das ações insistentes de marcar presença onde quer que seja. Dizer, fazer, perder, ganhar, sorrir, gargalhar, contudo
meros artesões da obra-prima da qual fazemos parte e de que poucos conheceram
até aqui. Uns realçam as dores. Outros somem nas ausências, carregando fardos de
saudade, lembranças de emoção eternas, relíquias raras dessa aventura de viver.
Em havendo oportunidade, aprendemos do uso de nós mesmos a
não repetir aquilo que nos fizera sofrer. Das frações de tempo reunimos só
migalhas que nos escorrem pelos dedos. Atores, pintores, fotógrafos da sorte em
movimento, arrefecemos os ânimos e sustentamos teses, nalgumas horas absurdas,
ansiosas, suaves, etc. Porém ninguém quer passar em branco. O carrossel do
tempo percorre, pois, as lâminas dos destinos e traz resultados na forma de
objetos e produções que, logo em seguida, viram folhas secas na floresta do
mistério.
Ao coordenar o tempo nesse ritmo das voltas do mundo, de
algum lugar chegam vastas esperanças que vão alimentando de sonhos a barriga do
depois. Juntos, a gente e o deslizar das horas, conduzimos o barco dos
acontecimentos. O que mais fascina disso, no entanto, fica por conta das
histórias que restaram e dos trajes dos vultos que passam nas gerações em forma
de seres imaginários que também respiravam, riam e defendiam as mesmas teses
das quais ora realizamos o nosso expediente neste chão de tantas maravilhas fugazes.
(Ilustração: Composição VII (1913), de Wassily Kandisky).
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