terça-feira, 16 de março de 2021

Era de Aquarius


No meu segundo ano de Bahia, 1972, vivendo em Salvador, ali seria montado, no Teatro Castro Alves, o musical Hair, isto depois de sucesso excepcional, entre São Paulo e Rio de Janeiro, desde a primeira apresentação, no ano de 1969. Lançada em Nova York dois anos antes, a peça de Gerome Ragni e James Rado chegava ao Brasil numa fase politicamente repressiva ao tempo do movimento hippie, que se expandia pelo mundo inteiro; tempo de Guerra do Vietnã e da contracultura. Lá adiante, ganharia também uma versão cinematográfica de destaque.

Dotada de nomes que depois tornar-se-iam a base dos elencos brasileiros do cinema, da televisão e do teatro, a exemplo de Ney Latorraca, Antônio Fagundes, Altair Lima, Aracy Balabanian, Sônia Braga, Armando Bogus, José Luiz de França Penna, Helena Ignez, José Wilker, Nuno Leal Maia, Neusa Borges, Luiz Fernando Guimarães, Antônio Pitanga, Ney Latorraca, Denis Carvalho, dentre outros não menos cotados, eram dirigidos por Ademar Guerra, numa montagem considerada pela crítica internacional como a melhor editada de todos os países aonde viera a público. Dos aspectos mais emblemáticos da produção, ao final do primeiro ato, a peça apresentava um banho coletivo, ato era marcante, em que todos os atores ficavam despidos durante 30 segundos, uma das motivações a muitos dos espectadores que lotavam o teatro.

Eles saiam de cena, as cortinas fechavam e abriam com todos sem roupa de mãos dadas e jogavam margaridas pro público.

Muitos iam ver por causa dessa cena, mas a peça era excepcional, pelo movimento dos atores e pelas músicas maravilhosas.   

...

Nesse tempo, aos finais de semana, eu, sempre, visitava uma família de amigos no Bairro do Rio Vermelho, na Rua Fonte do Boi, o casal Gérson Penna e Ieda França, sendo ela originária de Crato. Com eles passaria momentos inesquecíveis, de atenção e fraternidade. Moravam próximo da praia, defronte ao Morro do Conselho, cercados de dez filhos, alguns de minha idade, dentre eles José Luiz Penna, atual Presidente do Partido Verde no Brasil. Nisto, numa daquelas visitas, ofereceriam um jantar a todos que trabalhavam no Hair, em Salvador, a maioria desses nomes citados acima. Tive, pois, a oportunidade de vê-los de perto, motivo de rara emoção, a conhecer tantos profissionais de escol no início de carreiras brilhantes, dos principais elencos da cena brasileira, dentre os quais o caririense José Wilker.

Quis, assim, registrar aquela ocasião, um dos pontos altos de minhas vivências na Boa Terra, enquanto escuto, com saudade e carinho, músicas da trilha sonora do espetáculo, tais como Let the Sunshine In e Good Morning Starshine, que, quase cinco décadas passadas, permanecem vivas na lembrança de nossa geração de tantas e valiosas experiências culturais.


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