Em mãos, exemplar do livro Cartas da Juventude, organizado por Assis Sousa Lima, edição da Confraria do Vento, Rio de Janeiro, 2020. São cartas que Assis recebeu de seis amigos, que as preservou com zelo e agora lança numa bem cuidada edição apresentada por Ana Cecília de Sousa Bastos e José Esmeraldo Gonçalves, com o subtítulo: Crônica de época. Recortes autoetnográficos (1968/1977). Autores das cartas: Emerson Monteiro, Eugênio Gomez, Flamínio Araripe, José Esmeraldo Gonçalves, Pedro de Lima e Tiago Araripe.
Obra de referência aos que buscam elementos largados no
tempo mas que sobrevivem à sua ação. Cartas entre amigos num período humano de
profundas contradições. Eram plena Guerra do Vietnam, rebeliões coletivas de
estudantes nas principais cidades europeias, ascensão do rock tal instrumento
de contestação, festivais da canção, movimento hippie, Guerra Fria, psicodelismo,
regimes de exceção na América Latina e noutros lugares, tropicalismo, em suma, tempos
de crise profunda em caráter mundial. Nisto, a expressão desses jovens em vias
de elucidar o futuro e resistir aos desafios propostos aos que possuem o senso
da criatividade artística, na música, na literatura, artes plásticas e,
sobretudo, no afã de descobrir alternativas de sobreviver aos valores
materialistas que dominam a sociedade contemporânea.
Nas palavras de Assis Lima: O objetivo não é teorizar sobre o que representam os anos finais da
década de sessenta e da década de setenta com relação a costumes,
comportamentos e ideologias. Mas sim, de algum modo, revisitar o período com o
espelho de hoje. Um fio narrativo atravessa cada personagem. Um plano narrativo
maior abarca o conjunto do material apresentado. Depende do ângulo da leitura.
Aberto ao leitor.
Dito, pois, qual matéria prima de avaliar em profundidade o
que acontecia à época, de dentro dos autores das cartas, o livro traz força de expressão,
em estilo confessional, despretensioso, anônimo. São testemunhos de um tempo sombrio,
de onde provêm os dias da atualidade.
Enquanto isto, Ana Cecília Bastos considera: Não é possível atravessar sem portas: que este livro – documento vivo de
sonhos de liberdade – seja, também hoje, uma afirmação de abrir portas e dissipar
sombras.
E José Esmeraldo resume: Este livro alcança a memória e resgata sentimentos íntimos de um grupo de amigos no momento em que, tais quais milhares de outros, faziam suas legítimas escolhas pessoais e profissionais.
Com isto, eis uma
produção coletiva de cunho documental, editada décadas depois com esmero,
acontecimento digno dos fieis credores das boas letras.
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