sexta-feira, 11 de julho de 2014

As coleções

Desde criança que houve em mim disposição para colecionar alguma coisa, talvez por influência de amigos, parentes, mas lembro dessa tendência de reunir e guardar, com especial apego, flâmulas, chaveiros, caixas de fósforo de propaganda, selos, quadros de fita de cinema, estampas do sabonete Eucalol, postais, até chegar nos livros e discos, as manias atuais e persistentes.

Imagino mesmo que por essa fase passaram muitos de minha geração; passaram ou nela permaneceram, chego a admitir.

As primeiras coleções que alimentei escondia debaixo de sete capas, na cômoda em que, também, ficavam minhas roupas. Representavam algo secreto, tesouro precioso de acesso só individual. Esperava sempre, quais acontecimentos felizes, a surpresa de novas aquisições, que, de raro em raro, apareciam através de um amigo, um primo, de perto, ou de longe.

Os quadros de fita de cinema mexeram forte com minha imaginação, pois representavam relíquias valiosas do que ocorria dentro das salas de projeção, retrato fiel de atores e cenas. Em Crato, nesse tempo (primeira metade da década dos anos 60), existiam outras pessoas que também se dedicavam a reunir os pedaços de celulose que sobravam das quebras das fitas, nos cinemas que da época (Cassino, Moderno e Educadora). Vem à memória Temóteo Bezerra e Chico do Moderno, que possuíam os melhores acervos de quadros de filmes famosos, os mais caros e procurados.

O ímpeto de colecionar
cresceu de intensidade quando descobri selos, os quadradinhos coloridos que viajam nas cartas trazendo o magnetismo de lugares distantes, mundos diferentes, misteriosos. Esse apego cresceu quando conheci os selos estrangeiros, dos quais formei coleção de quase um milhar, todos carimbados sem mancha ou defeito. Estrangeiros, porque assim acrescentavam a certeza de virem de outras terras bem longínquas, noutras línguas.

Demorava horas e horas a mergulhá-los em bacia de água limpa, em seguida repousando-os entre as páginas de dicionários para secar, quais seres vivos, num verdadeiro ritual que justificava o sonho das coleções.

Somei o gosto pelos selos ao das estampas de Eucalol, do tamanho dos sabonetes que acompanhavam as caixas, três unidades em cada uma. Minha mãe fazia feira na mercearia de seu Zé Honor, na rua Santos Dumont, e éramos atendidos por José Primo, que depois viria a ser meu colega no Banco do Brasil. Zé Primo conseguia com outros fregueses as estampas, que eu colecionava com zelo e possessividade.

Também formei um álbum de figurinhas de países, trajes típicos e bandeiras, tudo no segmento da coleção de selos, querendo aprofundar o conhecimento sobre povos.

Um dia, abusei dos selos, quando comecei a namorar, aos treze, quatorze anos. Notei que eles viraram concorrentes das horas que rarearam no meio das obrigações escolares e das namoradas, porquanto pediam atenções próprias.

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