terça-feira, 22 de julho de 2014

Nostalgias do poder

Assisti, certa vez, a entrevista feita por Flávio Cavalcanti com uma senhora que fora responsável pela cozinha do Palácio da Alvorada ao tempo do presidente João Goulart, onde o jornalista solicitou que narrasse alguma lembrança que lhe marcara o período, e que merecesse contar. Sem maiores esforços, a entrevistada reviveu ocasião em que perguntara ao Presidente se era bom ser Presidente do Brasil. Jango então respondeu que sim, nalguns momentos, sim; mas que também havia aspectos ruins naquela função, acrescentando: - É que nem sempre se sabe, entre as pessoas que nos rodeiam, quem é inimigo, quem é amigo. E temos que seguir de qualquer jeito a nos relacionar com todos e em todas as circunstâncias.

Assim funciona o famigerado poder humano. Pessoas a desempenhar papéis necessários de comandar os grupamentos, quais partes dos sistemas inevitáveis, o que exige continuidade, porém há que topar o limite das paixões das criaturas, e, não raras vezes, utilizam as posições que desempenham a interesse particular. Lutam, por isso, com as fraquezas, próprias e de terceiros. Cruzam a perecividade dos acontecimentos, quando nada é definitivo, sujeitos às intempéries da fama e do destaque, arrastados, tantas horas, pelos cordões dos interesseiros e sagazes da corte dos bajuladores, amantes da lisonja. Desde que o mundo existe, acontecem tais dramas e comédias.

O risco representa, no entanto, a ilusão da permanência impossível ente a sombra fugidia e a debilidade da raça, o que só entulha de fascínio de pobres mortais entregues às orgias palacianas.

Esse lado estreito da personalidade exige atenção, antes, durante e depois dos turnos eleitorais. Ninguém é eterno. A forma ideal de encarar a tentação do poder significaria agir com desprendimento, conservando o lado forte das grandezas do conhecimento. Erguer olhos a dimensões maiores de sentidos perenes. No que ensina de Jesus de Nazaré: De que vale ao homem ganhar este mundo e perder a Eternidade.



Ainda mais que vender a consciência representa cair de bruços sobre os males dessa síndrome que ronda os poderosos, ao modo clássico da espada de Dâmocles, dos gregos, a balançar ameaçadora, prendida só por um fio, no alto da cabeça dos reis.

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