Garapa de certo lembraria seu nome original, perdido nos saltos do tempo, nos afagos distantes desaparecidos. Mas ficara famoso, e depois furioso, sobremodo, com reações agressivas que esboçava por ouvir esse outro nome, cantado entre apupos desocupados, chistosos, buscando aperreá-lo.
Quisesse vê-lo transtornado, jogar pedra, correr ao encalço dos moleques, se armar de cacete e desfechar golpes nos que permanecessem na área de ação, coisas dos irreverentes estudantes da cidade, gritassem o célebre apelido na sua frente.
Garapa é substantivo bem próprio da região do Cariri, a designar o sumo verde escuro da cana-de-açúcar prensada nas moendas dos engenhos, que escorre pelas bicas na direção da fornalha. Cozida nos tachos transmutará num melaço fumegante da cor dourada, em seguida despejado nas gamelas e submetido ao movimento circulante das pás dos caixeadores, açucara nas formas de madeira, para esfriar e secar, e depois deliciosos tijolos, conhecidos com o nome de rapadura.
Pois, sim, numa dessas ocasiões públicas de execração do alienado, prática dos vadios, era Garapa de novo exposto às garras do ridículo.
Um dos provocadores, no entanto, de tão próximo, que estava do pobre homem e sem admitir perder de aborrecê-lo, exclamou:
- Mel com água! (os elementos que compõem a garapa)! Mel com água! – repetia, às ganas furiosas do doido.
Impaciente, agoniado, ouvindo, Garapa sabia do vinha o sádico grito. Humilde, limitado no raciocínio, reagia do jeito que a natureza permitia, sem, no entanto, reconhecer a derrota, se dando ao direito de responder, e detonava quase na mesma moeda de espirituosidade:
- Mistura, sacana, mistura, que tu vai ver o que acontece – favorecendo na fuga os que tanto lhe judiavam, e com isso provocando mais risos naqueles que assistiam à cena patética. – Mistura...
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