As dificuldades de
transporte sempre acompanharam o ser homem nas fases da História. Exemplo
disso, quando não havia os meios atuais de estradas e seus idolatrados veículos
automotivos, deslocar os doentes no sertão exigia esforços inestimáveis.
A solução encontrada
tantas vezes era estender uma rede em uma madeira bruta e distribuir o peso nos
ombros de valentes carregadores, perfazendo a pé longas distâncias na busca do
socorro médico, sendo também essa a modalidade usada para remeter os falecidos
ao pouso derradeiro.
Nos caminhos, quem
encontrava um carreto sombrio daquele tipo logo queria, de curiosidade, saber o
que conduziam seus portadores:
- É vivo ou é morto?
- perguntavam de costume onde fossem passando com a maca, o que acanhava os
vivos que tivessem de utilizar o tipo de ambulância do passado, pondo-os numa
situação vexatória.
Sobre tais situações
indesejáveis, o Padre Neri Feitosa, em seu livro Usos e Costumes de 50 Anos Atrás, conta que o Seu Pedro de Brito,
varão residente no Quebra, sítio do distrito de Ponta da Serra, em Crato,
quando adoeceu e teve que ser trazido às pressas para se tratar na sede do
município, se viu nessa condição de enfrentar tal embaraço, estendido numa rede
levada no ombro à busca da cura.
Em princípio, reagiu
de não querer acordo. Preferia se acomodar nos matos a defrontar os agoureiros
do percurso. E o doente, por nada deste
mundo, queria ir na rede, com receio da pergunta costumeira - afirma o
sacerdote em seu livro. No entanto, dada a persistência continuada dos
familiares em cuidar da saúde do ente querido, o sertanejo aceitou fazer a
viagem.
Justificados zelos, porém
dito e feito, pouco demorou lhe acontecer o que temia. Envolto nos lençóis da
jornada a caminho da cidade, conduzido nos ombros de dois caboclos fortes, na
estrada, certo instante escutou, contrariado, a temida pergunta de algum
observador:
- É vivo ou é morto?
Sem esperar a
resposta dos carregadores, o enfermo afastou as bordas da tipóia improvisada,
botou a cabeça para fora e, de pescoço esticado, ainda resmungando (- Eu não disse, eu não disse!), de logo
revidou:
- É vivo, seu filho
da puta!
Muito bom! Gostei da tipoia rsrs mas é que naqueles tempos, que morou no interio sabe, os mortos eram encerrados em redes. A pobreza grande não permitia a compra de um caixão. E assim a rede, levada por dois homens levava os mortos para sua última morada. Triste mas era assim mesmo.
ResponderExcluirPerdoa os lapsos rsrsrs
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