(tradição afro-brasileira)
A deusa mais guerreira do Daomé, Nanã
Buruquê, apaixonou-se por Oxalá, de quem pretendia conquistar o reino. Ele, por
sua vez, não queria envolvimento com outro orixá, pois amava Iemanjá, sua
mulher. Nanã, sabendo disso, fez vinho de palma, embriagou-o e seduziu-o,
engravidando por via de consequência.
O filho de
Nanã Buruquê e Oxalá, gerado na força da desobediência, recebeu o nome de Omulu
e nasceu vitimado por feridas deformantes pelo corpo, motivo suficiente a que sua
mãe o deixasse abandonado na praia, querendo que o mar lhe tirasse a vida.
Avistado por enorme caranguejo, o bebê chegou a perder pedaços da sua carne,
ferido que pelas pinças do animal agressivo.
Quando veio a maré alta que começou banhar o recém-nascido, Iemanjá
ouviu-lhe o choro e veio na busca, deparando-se com criança indefesa sagrando e
quase morta. Tomada de profunda compaixão, pegou-a nos braços salvando de
afogamento iminente.
No observar a redondeza, Iemanjá localizou uma gruta deserta onde acomodou
Omulu. Improvisou berço rústico de palhas de bananeira, instalando-o e passando
a tratá-lo qual legítimo filho, protegendo-o, alimentando-o com pipoca sem sal
nem gordura e aliviando-lhe as dores dos ferimentos.
Desde então, sempre que os afazeres do reinado permitiam, vinha à praia
e cuidava do pequeno, amamentando-o e banhando-o nas águas do mar.
Quando sozinho, Omulu percorria as matas e se aproximava dos bichos,
dentre eles as cobras, com quem estreitou amizade.
Numa das visitas que recebeu da Rainha do Mar, Omulu se apresentou
cercado de répteis, dentre eles perigosa cobra coral de sua preferida. Ao
admirar o poder que ele tinha de dominar as serpentes, Iemanjá observou também
que crescera e se transformara em jovem belo, sadio e disposto.
Já homem feito, Omulu decidiu conhecer o mundo. Juntou alguns poucos
pertences, bornal, bastão e cabaça de água, acompanhou-se de dois cachorros e
partiu com destino ignorado, vagando na face da Terra.
Viajava qual esmolé, mendigando o sustento e se
dedicando a curar enfermos e a combater epidemias que castigavam as aldeias.
Quando alimentado, mesmo assim continuava à cata de alimentos para repartir com
os irmãos necessitados, convertendo a jornada em serviço de desapego e
caridade.
As funções de Omulu se tornaram missão de trazer conforto aos
desvalidos que encontrava. Isso, porém, provocou reações desencontradas nas
pessoas ruins que, egoístas, nalgumas ocasiões recusavam o auxílio. Por esta causa,
contrafeito, o orixá resolveu se embrenha mata adentro.
Nesse tempo, conheceu Ossanha, a deusa responsável pela vegetação. Dela
aprendeu o jeito de trabalhar o poder das plantas e desenvolver o dom da cura.
Hoje, rico dos conhecimentos da Natureza, segue vagando e ministrando os
benefícios da saúde a quem merecer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário