segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A lenda de Omulu

(tradição afro-brasileira)

A deusa mais guerreira do Daomé, Nanã Buruquê, apaixonou-se por Oxalá, de quem pretendia conquistar o reino. Ele, por sua vez, não queria envolvimento com outro orixá, pois amava Iemanjá, sua mulher. Nanã, sabendo disso, fez vinho de palma, embriagou-o e seduziu-o, engravidando por via de consequência.

O filho de Nanã Buruquê e Oxalá, gerado na força da desobediência, recebeu o nome de Omulu e nasceu vitimado por feridas deformantes pelo corpo, motivo suficiente a que sua mãe o deixasse abandonado na praia, querendo que o mar lhe tirasse a vida. Avistado por enorme caranguejo, o bebê chegou a perder pedaços da sua carne, ferido que pelas pinças do animal agressivo. 

Quando veio a maré alta que começou banhar o recém-nascido, Iemanjá ouviu-lhe o choro e veio na busca, deparando-se com criança indefesa sagrando e quase morta. Tomada de profunda compaixão, pegou-a nos braços salvando de afogamento iminente.

No observar a redondeza, Iemanjá localizou uma gruta deserta onde acomodou Omulu. Improvisou berço rústico de palhas de bananeira, instalando-o e passando a tratá-lo qual legítimo filho, protegendo-o, alimentando-o com pipoca sem sal nem gordura e aliviando-lhe as dores dos ferimentos.

Desde então, sempre que os afazeres do reinado permitiam, vinha à praia e cuidava do pequeno, amamentando-o e banhando-o nas águas do mar.

Quando sozinho, Omulu percorria as matas e se aproximava dos bichos, dentre eles as cobras, com quem estreitou amizade.

Numa das visitas que recebeu da Rainha do Mar, Omulu se apresentou cercado de répteis, dentre eles perigosa cobra coral de sua preferida. Ao admirar o poder que ele tinha de dominar as serpentes, Iemanjá observou também que crescera e se transformara em jovem belo, sadio e disposto.

Já homem feito, Omulu decidiu conhecer o mundo. Juntou alguns poucos pertences, bornal, bastão e cabaça de água, acompanhou-se de dois cachorros e partiu com destino ignorado, vagando na face da Terra.

Viajava qual esmolé, mendigando o sustento e se dedicando a curar enfermos e a combater epidemias que castigavam as aldeias. 

Quando alimentado, mesmo assim continuava à cata de alimentos para repartir com os irmãos necessitados, convertendo a jornada em serviço de desapego e caridade.

As funções de Omulu se tornaram missão de trazer conforto aos desvalidos que encontrava. Isso, porém, provocou reações desencontradas nas pessoas ruins que, egoístas, nalgumas ocasiões recusavam o auxílio. Por esta causa, contrafeito, o orixá resolveu se embrenha mata adentro.

Nesse tempo, conheceu Ossanha, a deusa responsável pela vegetação. Dela aprendeu o jeito de trabalhar o poder das plantas e desenvolver o dom da cura. Hoje, rico dos conhecimentos da Natureza, segue vagando e ministrando os benefícios da saúde a quem merecer.

Na cultura católica, para uns, o orixá representa São Roque, e para outros, São Lázaro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário