No Dilúvio, quando
Noé recebeu a atribuição de construir a arca e esperar que chovesse o tanto de cobrir
a Terra, por certo jamais imaginara vir ser escolhido naquela missão tão
importante. Porém nunca duvidou, a despeito da polêmica motivada pelo assunto.
Transformou fraqueza em força, animou a parentela ao trabalho, reuniu animais e
acreditou (sobretudo), e ainda hoje imaginamos como pôde o engenho humano participar
com tamanha envergadura na luta da sobrevivência.
A nós não compete
julgar, como também não cabe duvidar que exista o Poder, fonte irradiadora de
vida, função máxima do Ser, que provas por si só determinam quando muito até que
ponto nossa compreensão é limitada nas razões da Eternidade.
O gesto de escrever
permite, no entanto, deixar que o papel lance o sonho nas planícies do
inatingível, aonde reunir ficção e elaborar ferramentas de fechar contatos e
acender consciências. Mas o espaço tem de ser preenchido a todo custo, catando
letras, sílabas, palavras, frases, pretexto de alguém nos acompanhar na montagem
da cena do dizer.
Isto, todavia, não
é bastante para que observar o trilho ininterrupto da história, perdidos que,
por vezes, somos nos melhores propósitos, presas fáceis de manias, começos
abandonados, fitas, velas, a confundir espelho com fotografia. (O espelho
inverte a imagem, equivoca, troca os lados de nossa cara, enganando, remetendo
de volta à caverna de onde saíramos um belo dia; pura irrealidade que se
instala; ilusão que tritura tempo e seca de cair do pé, raias da imbecilidade).
Temos de perceber essa
fórmula mágica da autotransformação, independente de esperar horas mais
propositadas. Noés de hoje, alertemo-nos ligados através das parabólicas invisíveis,
pois de algum lugar sopra o vento libertador. E a fantasia quase gastou todos os
filmes de ação, muita superprodução sem que ainda sejamos heróis além dos
banheiros, quintais, churrasqueiras, castelos, confeitarias, arquibancadas
vazias, nada além de l5 minutos.
Nesse girar de
pneus, rastros e calendários, estômagos secos e bocas amargas, robôs fora de
uso. Estacionemos um pouco e sintamos a presença da luz que em cada criatura move
a vontade entre faixas, flores, sorrisos, estágios da semente original.
Nuvens e naves
riscam o tapete silencioso das estrelas ainda molhadas do frio da noite, quando
os animais dormiam obedientes no Paraíso. E insisto em perguntar:
(Foto: Jackson Bola Bantim).
Mais é claro que o sol vai nascer amanhã...” nestes tempos de altos níveis de tecnologias chegamos a duvidar da capacidade e sensibilidade das pessoas de amar e de viver de forma simples e a valorizar as coisas pequenas que dão sentido a nossa vida. É sempre bom ler os seus textos e que como este é de certa forma atemporal, fator presente nos grandes escritores. Um abraço amigo Emerson.
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