Seu Pedro atendia com zelo deveres do
coração. A cada quinze dias, viajava de Crato à sede do município de Farias
Brito, distância de 45 km, onde pernoitava, e cedo, no dia seguinte, viajava
para ver a noiva na no topo da Serra do Quincuncá, isso tudo em lombo de
animal.
Daquela vez, nada foi
diferente. Completara a subida, chegando ao plano da chapada, quando resolveu esfriar
s garganta e o burro na bodega de Jovino, bater a poeira, banhar o rosto,
trocar de roupa, bem conforme das outras tantas vezes.
Desta, porém, algo
imprevisto se daria. Encostado na ponta do balcão enegrecido pelo tempo, tipo
esdrúxulo alterava a cena rotineira. Homenzarrão de tez escura e cabelos
escorridos em cima dos ombros bebia cachaça de um copo de oito. Ao notar o
recém chegado, se dirigiu a Jovino e ordenou abusado:
- Bota uma, que temos
companhia.
- Não, senhor - de
imediato reagiu o visitante. - Agradeço, pois não bebo.
- Bota assim mesmo –
insistiu que oferecia. - E traga também uma barra de sabão.
O bodegueiro sentiu
que clima tenso havia se estabelecido, mesmo assim cumpriu na risca a
determinação. Aquilo que antes era só a bebida ligeiro virou lavagem de cachaça
com sabão, apresentada ao noivo viajante para seu consumo imediato. Nenhuma qualquer
chance de outra escolha, ele virou o copo goela abaixo, e em seguida, calado,
olhos no chão, montou de novo o burro e marchou para o destino.
Perto dali, na casa
do futuro sogro, contou os detalhes da ofensa de que fora vítima há poucos
instantes. Os três irmãos da doce amada, caboclos fortes e dispostos,
insistiram que o ocorrido merecesse pronta reparação e, reunidos em grupo,
seguiram com dita finalidade.
Chegados à bodega,
acharam as coisas conforme descritas pelo noivo da irmã. Eles três valentes
ficaram guarnecendo a porta. O noivo entrou, pediu a bebida, o sabão,
misturou-os quanto pode, e, se voltando ao desafiante, que ainda mantinha a
pose arrogante no final do balcão, ordenou que este ingerisse a nauseante
beberagem.
Nessa hora, atentou o
ofertante de olhar no sentido da porta onde deixara os aliados na desforra. Era
o lugar mais limpo desse mundo, nem vivalma. Correram os três. Conclusão: dessa
vez, não teve nem direito a tira gosto; pois lamberia os beiços de sabão depois
da segunda talagada de cachaça com sabão num dia único.
Pedro ainda hoje
recorda com desgosto o noivado desfeito, que terminou sem chances, naquela oportunidade.
Obs.:
História ouvida de Antônio Nirson Monteiro II.
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