A cinco quilômetros da sede do
município de Lavras da Mangabeira, região do Sertão do Salgado, no Estado do
Ceará, localiza-se um dos mais belos fenômenos naturais de que se tem notícia
em todo Nordeste brasileiro, o chamado Boqueirão de Lavras.
Talhado em serra de primorosa
formação calcária, erosão espontânea ocasionada pela força das águas, o
monumento geológico apresenta fenda de 40m de largura por 96 de altura, na Serra
do Boqueirão, lavrado pelo leito contínuo do Rio Salgado, um dos afluentes
principais do Jaguaribe, cujas águas desses trechos alimentam o Açude do
Castanhão.
O Boqueirão representa dois
contrafortes rochosos de massa pouso resistente, segundo o engenheiro inglês
Jules J. Revy, responsável pelos estudos preliminares realizados para uma
provável construção, naquela área, de reservatório, obra cogitada no tempo do
Império, o qual ainda acrescentou ao seu parecer as outras dificuldades
técnicas restritivas que se enfrentaria de fixar escoadouro sobre rocha sólida
(à época inexistiam os recursos materiais desenvolvidos pela moderna tecnologia
da construção posterior), caso levada adiante dita pretensão.
Cantado em prosa e verso através
das produções de quem o conhece, este tradicional evento reserva no seu
interior aspectos peculiares de relevo pitoresco, quais salões atapetados,
móveis diversificados de mesas, altares, todos guarnecidos de toalhas, baixelas
ornamentais e o desenho nas pedras de um carneiro, imagem encontrada pelos
pesquisadores noutros fenômenos de cavernas, figura recorrente e símbolo mágico
dos lugares montanhosos.
Numa longa caverna vazada sob as
paredes de pedra do Boqueirão, depreende-se uma mãe d’água, isto é, lago interior cavado e conservado no íntimo dos
penhascos, efeito visível noutros rios e que persistentes mesmo nos períodos de
estio. Constituídas de águas cristalinas e calmas, apreciadas pelos animais
silvestres, as mães d’água são chamadas também de camas da Iara, a deusa das águas. Segundo a tradição, em
circunstâncias próprias, de raro em raro, essa personagem mitológica seria
vista pelos afoitos aventureiros que procuram esses pousos recolhidos.
No Boqueirão de Lavras, a lenda
marca presença por meio do folclore regional da Iara, bem como em torno da
existência do Carneiro de Ouro, avistamentos narrados em ocasiões especiais
pelos habitantes da região, afirmações legendárias que servem de contorno à
beleza do marco original até hoje pouco explorado em termos turísticos, no que
pesem as políticas oficiais do setor, no mundo inteiro.
A gruta desta
formação rochosa fica numa elevação de cem palmos acima do leito do poço,
abóbada achatada onde pululam milhares de morcegos, bichos típicos dos sítios
longe do movimento intenso da civilização.
Na verdade, o
Boqueirão surpreende os visitantes ocasionais do município, sem, no entanto,
dispor do mínimo de infra-estrutura, o que facilitaria sua melhor abordagem.
Uma estrada carroçável de piçarra permite o acesso de automóveis, contudo
carece do mínimo de conforto aos que pretendem demorar algum tempo no local.
(Foto: Jackson Bola Bantim).
(Foto: Jackson Bola Bantim).
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