sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Praça Siqueira Campos

Houve um tempo em Crato quando o centro de tudo se fixava na Praça Siqueira Campos, o foco da vida social, fazendo-a símbolo de participação efetiva nos acontecimentos distantes e próximos. Isto bem presenciei pelo menos durante três décadas, desde os anos 50, quando minha família viera morar na cidade, aos anos 60, de largas movimentações políticas e culturais, e parte dos anos 70, quando das primeiras emissões de televisão, que chegariam ao interior cearense através das antenas repetidoras, trazendo de volta as famílias aos lares. Deixavam de lado o convívio e as atividades espontâneas das ruas e praças. Foram décadas marcantes aquelas. Quem viveu o período deve recordar a presença constante da população que priorizava o comparecimento à Siqueira Campos, com ênfase nas noites de sábado e domingo. Palco bem iluminado, ajardinado com primor e acolhedor em sentido amplo. 

Eram verdadeiras confraternizações o que ali acontecia de livre e espontânea vontade. Desde às lideranças tradicionais aos jovens, o logradouro significava clube social a céu aberto e efusivamente participado. Vestidos nas melhores domingueiras, a satisfação de todos seria passear na praça dos sonhos e de tantos amores; de alegres conversações e fonte noticiosa do que ocorria no resto do mundo àquela hora. Um polo típico de atrações inigualáveis. 

Defronte ficavam o Cine Cassino, prédio do antigo Cassino Sul Americano, de épocas anteriores, e o Café Líder, onde frequentavam os principais nomes da vida cultural e empresarial de Crato, então a metrópole consagrada do Cariri. Logo adiante, indo pela Rua José de Alencar, existia o Cine Moderno. Era a Praça Siqueira Campos e, face disso, ao poder agregador, o mais da zona urbana seria tão só periferia nos momentos do raro fervor coletivo, eis o que resumia a vida noturna daquelas épocas.

Desse fenômeno amplamente consolidado durante tanto tempo, nasceu o livro Praça Siqueira Campos, de uma plêiade excelente de autoras, que ora aqui consideramos. Vale, sim, de registro competente e pródigo das lembranças da fase platinada de tantos, cujas vivências encontram o marco da história de vida dessas várias gerações. 

As memórias necessitam de artífices a quem jamais desaparecem os detalhes e as histórias imortais dos povos. Por vezes, as qualidades de uma equipe de testemunhas reunidas em volta de valores idênticos rendem muito, a ponto de ganhar o fôlego das novas gerações e edições em livro, igual ao que ora verificamos. Com satisfação quero, pois, consignar a importância sociocultural desta produção, motivo da preservação de uma fatia de tempo dotada dos melhores dias dos que viveram as belezas dessas horas felizes e indeléveis. 

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