sábado, 11 de novembro de 2017

Os amores desta vida

Ao sabor de todos nós, eis esta ânsia que toca os dias como sinos da ilusão. Preencher de vazios os sentimentos já desde nunca vazios, nos sonhos de quem esteja bem ali do lado. Vontade soberana de envolver menos solidão na solidão de alguém. Fome, pois, de companhia. Ninguém que queira olhar em volta e desistir. Daí parceiros de virtudes em forma de sintonia, ao mar aberto dos sóis entre nuvens cinza. Algo a interpretar essa vontade soberana que deixa livre os lugares próximos e esquece as horas longínquas, quando haverá de haver, por isso, um senso de posse que resolva o desenvolvimento das ideias que somos nós enquanto vida, habitantes cósmicos das florestas virgens. 

Até então, vislumbrar as possibilidades disso, de encher de sentido essa ausência de tudo, no completar das interrogações, que deslizem os amantes suavemente pelas árvores do deserto da solidão. Todavia o espaço útil perfaz o tempo de tantas definições das vidas sucessivas e que nenhuma fosse. Ainda em tudo a preencher, sói de querer sempre novos desejos em forma de pessoas, na busca do outro nos hemisférios da gente mesmo. Enquanto isso, a sombra seguirá sua vocação eterna de buscar saída inexistente nos mundos lá de fora. Nunca, depois, para sempre, os temores de ser, jamais... As pontes imaginárias apenas permitem divagar, andar aos gestos, aos tombos, deixar correr vultos de mistérios de outras vontades também ocultas, adiamentos de novos encontros. Desencontros em movimento. 

Quiséssemos, entretanto, admitir, saberíamos de bom grado o peso das existências reais. Contudo mistificamos, mascamos em pincéis azuis as velhas portas da ficção dessa angústia paterna. Saber-se-ia isolado no meio das pedras em atividade, no claro das marés que assustariam até os heróis nas lendas. Crer-se largados nos oceanos bravios de vivos parceiros ainda soltos nos acasos ferve de não ter tamanho a melhor das consciências agora. Há nisso que criar modelos de respostas, a fim de salvar o instante e manter em chamas eternas a esperança e a pureza dos traços mais inocentes. 

Um comentário:

  1. Queria tanto poder entender as metáforas neste texto, mas não creio que traduza o que imagina, até porque o coração dos outros é terra que ninguém anda e pouco se sabe. Mas ainda assim não deixa de ser belo o seu texto.

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