segunda-feira, 27 de abril de 2015

Do ofício de escrever

O desafio maior de quem escreve é a distância imediata entre os que produzem os textos e quem, num plano eventual, depois os leem, porquanto a solidão da escrita não permite respostas prontas daqueles leitores hipotéticos. Daí, o gesto virar mania esquisita, dessas inexplicáveis a que se acham sujeitos indivíduos desses tempos de pessoas afastadas, no labirinto social do mundo moderno.


Mas mesmo assim alguma coisa fala dentro da gente, possível de chegar aos outros, na civilização instrumental de letras, registrando, documentando, transportando nas palavras conceitos, experiências, histórias, geração a geração, reserva de constantes tipos. Consegue-se, após a invenção da industrial, preservar milênios de literatura. 

O que pensou alguém há milhares de anos mantém-se intacto pela maravilha da arte literária, a trazer progresso à humanidade inteira.

Enquanto que não se sabe de artistas viverem a fomentar guerras, fabricar armas, gerar discórdia. Artistas sonham. Amam. Artistas nutrem idéias, utopias, realidades tangíveis. Não lhes cabe produzir bombas, metralhadoras, aviões de combate, tanques, fome, divisões.

Na Grécia Antiga, já havia essa preocupação de desenvolver, pela estética dos textos teatrais, o senso de observação, a consciência espiritual, verdadeira, sensível, treinamento de habilidade às coisas míticas, invisíveis, e com isso permitir a compreensão das luzes do coração. 

Hoje, ao seu tempo, a literatura propicia trabalhar a ciência rumo ao potencial da infinita criação, transformarmo-nos em seres válidos, amigos, irmãos entre os humanos, a fim de construir sociedade nova, justa, sem ganância ou competição exacerbada, livre dos atuais derramamentos inúteis de sangue.

Tudo isso, pois, perpassa o senso do estético e faz-nos disponíveis às constantes mudanças de inspiração. E sentar e transferir valores dignos, naturais, democráticos, de que é possível partilhar o amor, dando testemunho da solidariedade no que pesem as lutas insanas do cotidiano. A arte qual mágica de sonhos realizáveis, pela força vital, ao pleno dispor da Natureza, abertos ao pleno vigor do grande público, em profusão de cores, sons e harmonia.

O homem jamais justificará, pois, alienações face ao desprezo do mundo, museus sem paredes, no dizer de Marshall Mcluhan. Para onde se voltar, depreende materiais originais, suficientes ao processo amplo do conhecimento, na medida certa dos tantos graus de consciência, ritmo consistente da evolução por meio da cultura alfabetizada.  

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